quarta-feira, agosto 09, 2006

Tarde?

Bueno, lê novamente teu último post, abaixo, e imagina tu o que, para mim, foi ler esse parágrafo. Depois, fiquei pensando nessa história de merecimento. Será que não é um conceito tão pueril quanto o do destino? Vê: dizem uns que existe o tal de destino; que as tranformações correriam para um fim previamente teorizado, o "estava escrito"; a resposta de todos os encontros e desencontros. Que sentido há em dizer tais coisas? Sabe qual a única utilidade eu vejo ser possível de fato para estas afirmações? A velha transferência de responsabilidades. O homem gosta de se fazer de vítima, principalmente quando a situação complica - porque quando a glória vem ele se enche de si e estranhamente passa por um momento em que se vê como o senhor de sua vida. Sempre é mais fácil ter a quem culpar, seja ao destino, seja a Deus - que, para fins da mesma transferência, é posto em lugar externo ao homem.

Daí fiz a relação: merecimento? Quem está acima para dizer o que mereces? Que idéia vaga é essa?! O que fizeste para merecer nascer? Tua própria morte depende de um merecimento ou ela é certa e foge desta necessidade? Do mesmo modo, os acontecimentos que por ti passarem ao longo do período entre esses dois fatos desmerecidos não hão de corresponder a nenhum juízo, ou tampouco celebrar tuas ações e inações, sejam quais forem. Logicamente, o que fazes ou deixas de fazer têm implicações no que virá a seguir, isso é tão claro quanto dizer que parar de te alimentar te fará desvanecer. E é nessa simplicidade que corre, ou caminha, a vida. Tu escolhes em que tempo e para onde.

Tarde? Onde leste tal profanação da tua vida? Onde ouviste tal confinamento dos teus dias?

4 comentários:

Felipe disse...

Pois, quando estava escrevendo, pensei que tinha a ver contigo, ainda que não estivesse escrevendo sobre ti.
Mas o merecimento ao qual me referi significa o máximo possível que se pode atingir. Ainda que o significado deste máximo não seja claro para ninguém. Do teu texto, me vem a pergunta: se eu não consegui ir além, será que eu tinha capacidade para isto? Afinal, saber ou não escolher é parte desta capacidade.

Felipe disse...

Detalhe que o estopim do meu texto anterior veio a partir de uma conversa sobre o Memórias de minhas putas tristes, do Gabriel. Se a idéia não se perder por aí, ou colocar alguma coisa nesta mesma linha, mas em outro contexto.

Arbº disse...

Se tu não conseguires ir além, creio, não significa exclusivamente que não tinhas capacidade. Pois a capacidade existe potencialmente ou não existe. Assim como o que fizeres não será obra estritamente de tua capacidade. "Ir além" depende mais do que da capacidade, depende da vontade e de muitos outros fatores.

Agora, "máximo"... Einstein atingiu o seu máximo? E Pelé? Acho vã a preocupação em atingir o máximo, no sentido de que isso pode até mesmo diminuir possibilidades, pois, de fato, não temos como conhecer todas nossas potencialidades conhecendo praticamente 10% do nosso cérebro. O que não exclui, de forma alguma, a vontade sadia do crescimento.

Pegando o uso que creio teres dado às expressões, eu diria que sempre se merece mais e a busca verdadeira nunca há de ser um fracasso.

Felipe disse...

Acho que o teu último parágrafo do comentário resume bem o que quis dizer, ainda que eu tenha deixado bastante em aberto à interpretação. O "Será?" no meio do texto dá a dica de qual eu desconfio que seja a melhor resposta para a dúvida.