quinta-feira, abril 26, 2007

Aniquila

repetição repetição
atenção vamos repetir
repetição repetição
acostume esquecer

repetição repetição
calma só um pouco mais
repetição repetição
até o silêncio estilhaça

repetição repetição
sintetiza o tempo
repetição repetição
corrói o espaço

pra quem não caiu
repete

quarta-feira, abril 25, 2007

segunda-feira, abril 23, 2007

Caixa de fotografias

Encontro vago, encontro cego
um pouco de mudança e
um tanto assustado.
Mesma como se fosse ontem.

Dias assim, acompanho calado,
mudo de pavor,
modo de espera,
Ponho de lado, sem discussão.

Ponho à prova tua imagem,
rabiscando baixinho, traço sereno.
Risco rasgado,
Grafite guinchando em papel.

Encontra mesma mudança
Num vago susto desperta
Fitas a postos e todos olham
Meu papelão em widescreen.

Fotos de ontem e de outros dias
Não mostram o mesmo
Mudam comigo
Revelam quem me tornei.

D'EMO: exorcize-se

meu melhor amigo,
finalmente tomei coragem, ah
mandei a minha demo
por e-mail, para a rádio
e um txt anexado
com as cifras do meu sofrimento
disseram que eu tenho uma queda por lágrimas
e que isso de lamento é ok, que tá saindo bem

você sabe como eu sou, choro por nada
tudo é emotivo
e me dê motivos então, ah
me dê motivos, então ah

encharquei uma guitarra nova com água e sal
é de dar dó
pra parecer retrô, acho que pegou
vou ser all star e dizer que nem tô
vou chorar pra sempre, reclamar do que restou
pra mim é o fim

sabe, acho que esse negócio de nostalgia com derrota contagia
dá pena, cara, dá muita pena
e no ócio dá vontade de chorar
(eu não tenho o que fazer)
não demora outra demo minha sai, espera só
que eu tô só, esperando a outra faixa:
é esperar e a demo baixa
tipo um download, mp3, saca?

sábado, abril 21, 2007




Sim, é um jogo. E a incapacidade de conhecer ao mesmo tempo todos os jogadores e seus movimentos, todos os cenários e suas probabilidades é que o tornam tão interessante. A pergunta que cabe a partir daqui é, quem realmente é jogador e quem é peça do jogo.

sexta-feira, abril 20, 2007

Apito inicial

É um jogo - exatamente um jogo. Muito complexo, é verdade. A questão se dá no acesso às regras, no modus operandi. Uma rede inapreensível de interferências, onde cada ser tem seu próprio ponto de vista, individual apenas como manifestação, posto que é influenciado pela infinidade de elementos copartícipes do jogo. É importante observar que a mencionada "individualidade apenas como manifestação" está associada precisamente aos pontos de vista. Um ser não é seu ponto de vista, nem age ou reage unicamente sob seus ditames - é, então, um referencial, constantemente se movimentando com o decurso da experiência. O referencial funciona como um ponto de partida, mas não é ele que gera o movimento do ser. Há o que Schopenhauer chamou vontade de ser. Esta vontade está associada ao mundo exterior, e, dessa maneira, pode entrar no jogo com atribuições de jogadora, já que tem acesso tanto aos dados da realidade como às potencialidades percebidas pela consciência. Ocorre que há uma relação de interdependência entre vontade e objetos exteriores, pois que são consumidos um na determinação do outro. Esta interação impõe limites, pois o sentido da vontade está sempre contaminado pelo mundo exterior, configurando-se assim dentro de suas dimensões.

O homem parece sofrer exatamente por desconhecer as regras que, talvez suponha, o libertariam. Ele quer querer. Da presunção de sua incapacidade para isso é que surge o medo e outras formas de não-ser. A realidade, então, está impregnada da negação de seres, e, mais, da afirmação e do acolhimento desta negação. A prática passa a dar-se pelo inverso. E, estranhamente, sentimos como que uma saudade de algo que não vivemos; e, estranhamente, temos esperança quando tudo, aparentemente, tende ao caos.

sexta-feira, abril 13, 2007

Precisava de umas boas e longas férias.

quarta-feira, abril 11, 2007

Às vezes ia ao McDonalds só para comer o capitalismo.

segunda-feira, abril 09, 2007

Diluído

A existência é anterior à representação da existência, claro. Tal evidência dá pistas para uma verdade menos óbvia, que diz respeito à substancialidade das coisas: nenhum signo encerra um significado em sua totalidade. É sempre como uma fotografia que, por mais ampla, nunca capta o todo. De modos diversos, o mesmo ocorre com todas as formas de compreensão e de reprodução da realidade (como é o caso da linguagem) - se bem que a própria compreensão já possa ser entendida como uma reprodução, já que ela também se dá por meio de uma linguagem, talvez a que temos menos acesso, mas ainda assim uma linguagem, pois que o cérebro não faz senão representar. Ocorre que estamos acostumados a tomar conhecimento da existência representada, tendo em vista que, se nossos sentidos nos prestam essa possibilidade, nos restrigem a outra, que seria ter acesso à existência in natura. Parece mesmo que a aproximação a esta existência pura não se dá pela via dos sentidos, pois nunca se encontram certezas de que as verdades estão, de fato, acercando-se da Verdade, ou seja, isto nunca é sabido, é, no melhor dos casos, intuído, configurando-se, assim, mais como um sentimento. O modo racional de representação do infinito é convencionado, e não poderia ser de outra maneira: o infinito não cabe em saber, só pode ser intuído, por isso é taxado por símbolos quando referido, como acontece com a própria palavra infinito. Sozinha, a palavra diz nada (aliás, nada ao infinito), de maneira que só temos uma idéia do que ela pode representar através de sua associação com outras palavras.

[Por enquanto, este pensamento de segunda pára aqui. Já posso ler inconsistência na minha premissa ("Tal evidência dá pistas..."), mas posso ter acertado em alguma coisa (tendo, quem sabe, atirado para muitos lados). O fato é que a idéia de limite tendendo a zero, com que tomo contato agora em Cálculo I, foi que me (ins)pirou. Espero esclarecer alguns pontos que para mim são relevantes disso tudo, o mais breve. E ir adiante.]

segunda-feira, abril 02, 2007


Nunca outra vez

Maurício esticou o braço e abriu a porta do carona. Não foram trocadas palavras, e, a bem dizer, nem olhares se cruzaram. Bastou-lhe a mini-saia. À Anabela, bastaram as rodas imponentes da camionete de Maurício. Imperava o silêncio na noite, bem abaixo das estrelas. O automóvel fez um ruído raso e dobrou na outra esquina. Imóvel, misturado a alguns sacos de lixo no outro lado da rua, dois olhos sobressaltaram-se ao acompanhar a cena. A força derradeira não serviu nem pra levantar. Anabela tinha pernas de vender. Ele era o resto, era o rastro de borracha no asfalto. Ele ficava, Anabela ia. Não sabia aonde.