quinta-feira, agosto 27, 2009

quinta-feira, agosto 06, 2009

Custo de Oportunidade

Richard Dawkins em A Grande História da Evolução, citando R. A. Fisher utilizando conceitos econômicos para explicar a evolução:

Na natureza, a maioria das populações animais tem números aproximadamente iguais de machos e de fêmeas. Há uma boa razão darwiniana para isso, e ela foi entendida claramente pelo grande estatístico e geneticista evolutivo R. A. Fisher. Imagine uma população na qual os números sejam desproporcionais. Nesse caso, os indivíduos do sexo mais raro terão, em média, uma vantagem reprodutiva sobre os do sexo mais comum. Isso não ocorre porque há mais demanda para eles e lhes é mais fácil encontrar um parceiro (embora essa possa ser uma razão adicional). A razão de Fisher é mais profunda, com um sutil viés econômico. Suponhamos que haja duas vezes mais machos do que fêmeas numa população. Como cada cria nascida tem exatamente um pai e uma mão, a fêmea média deve, sendo tudo o mais igual, ter duas vezes mais filhos do que o macho médio. E vice-versa, se invertermos a razão entre os sexos na população. É simplesmente uma questão de alocar a prole disponível entre os pais disponíveis. Portanto, a seleção natural imediatamente contrabalançará qualquer tendência geral dos genitores a favorecer filhos em vez de filhas, ou filhas em vez de filhos. A única razão entre os sexos evolutivamente estável é 50/50.
Mas não é assim tão simples. Fisher detectou uma sutileza econômica nessa lógica. E se, por exemplo, custar duas vezes mais criar um filho do que uma filha, presumivelmente porque os machos são duas vezes maiores? Então o raciocínio muda. A escolha que se apresenta a um genitor já não é "terei um filho ou uma filha?". Agora é "Terei um filho ou - pelo mesmo preço - duas filhas?". A razão de equilíbrio entre os sexos da população agora é duas fêmeas para cada macho. Pais que favorecem filhos do sexo masculino com a justificativa de que machos são raros verão sua vantagem solapada precisamente pelos custos extras de produzir machos. Fisher conjecturou que a verdadeira razão entre os sexos equilibrada pela seleção natural não é a proporção entre machos e fêmeas. É a razão entre o dispêndio econômico de criar filhos e o dispêndio econômico de criar filhas. E o que significa dispêndio econômico? Alimento? Tempo? Risco? Sim, na prática todas essas coisas tendem a ser importantes, e para Fisher os agentes que despendem são sempre os pais. Mas os economistas usam uma expressão mais geral para designar esse gasto: custo de oportunidade. O verdadeiro custo de produzir um filho, para um genitor, é medido em oportunidades perdidas de produzir outros filhos. Fisher chamou este custo de oportunidade de Dispêndio Parental. Sob o termo Investimento Parental, Robert L. Trivers, um brilhante intelectual sucessor de Fisher, usou a mesma idéia para elucidar a seleção sexual. Trivers também foi o primeiro a compreender claramente o fascinante fenômeno do conflito entre pais e prole, em uma teoria que o também brilhante David Haig desenvolveu em direções surpreendentes.
Como sempre, e com o risco de entediar meus leitores não incomodados por rudimentos de filosofia, mais uma vez devo ressaltar que a linguagem premeditada que empreguei não deve ser interpretada ao pé da letra. Os pais não se sentam para deliberar se terão um filho ou uma filha. A seleção natural favorece, ou desfavorece, tendências genáticas a investir em alimento ou outros recursos de um modo que acabe levando a um gasto parental igual ou desigual com filhos e filhas considerando-se o total da população reprodutiva. Na prática, isso implicará frequentemente números iguais de machos e fêmeas na população.