sexta-feira, julho 03, 2009

Quem sabe de mim sou eu ou a saúde na empresa

Problemas comuns em diversas empresas de diversos setores de atuação: afastamentos por problemas de saúde e queda na produtividade dos funcionários estressados. A perda resultante desses fatores legitima a tomada de medidas por parte da firma para melhorar os hábitos de seus funcionários, uma vez que evidências empíricas indicam que, por exemplo, exercícios, mudanças na dieta e parar de fumar reduzem a probabilidade de ocorrência de um grande número de doenças responsáveis por afastamentos do trabalho.
Qual é a solução encontrada pelos gestores de RH preocupados com a responsabilidade social da empresa, que consideram que uma empresa deve ser uma mãe para seus empregados, e aplaudida como conquista por empregados e pelo sindicato? A resposta é montar uma academia para seus empregados, para que eles sintam-se incentivados à prática de exercícios. Esta atitude melhora os indicadores de produtividade e de afastamento por problemas de saúde? Sim, é a resposta. Então, qual é o problema, afinal?
Ocorre, em primeiro lugar, que, se a empresa for a maior do país, ela dificilmente terá condições de prover o benefício para todos os seus funcionários. Não há espaço físico suficiente para isto. Os gestores, tão bonzinhos, terão que arranjar um meio de escolher a quem oferecer a benesse. E qual a melhor forma de discriminar os candidatos a uma vaga na academia? Uma mente brilhante pensa que, se o objetivo é aumentar o nível médio de saúde dos funcionários, o benefício deve ser concedido àqueles com os piores indicadores, certo? Assim, basta consultar os exames periódicos realizados e indicar as “piores notas” para a academia. Isto provavelmente estaria certo se o jogo fosse jogado uma única vez.
Acontece que não o é. Não só o jogo é repetido como os jogadores aprendem. E aqueles que eram inicialmente preocupados com a sua saúde e que internalizavam os custos de uma boa saúde notaram o comportamento free-rider dos colegas. Quem não investe na própria saúde é “premiado” com academia gratuita. E academia é algo que custa caro no mercado.
Lembrando: o comportamento que se queria inicialmente incentivar era o de que mais pessoas tomassem os devidos cuidados com sua saúde. Entretanto, um comportamento diametralmente oposto passou a ocorrer. Aqueles que estavam com os parâmetros de seus exames próximos dos valores críticos se deram conta que poderiam se esforçar para piorar e, assim, beneficiar-se das vantagens de academia a custo zero. Aqueles para os quais o preço de mercado de uma academia estava próximo de seu preço de reserva optaram por não adquirir privadamente o serviço, na esperança de conseguí-lo de graça, uma vez que, além de economizar, aumentam a chance de serem agraciados com o subsídio da empresa (não fazer exercícios aumenta a probabilidade de engordar, um dos critérios de seleção). Outro comportamento que se tornou comum foi o de iniciar uma dieta de engorda como preparativo para os exames periódicos. Barriga grande e colesterol alto são grandes aliados na conquista de musculação a custo zero.
Assim, mesmo com a melhor das intenções, o que os gestores de RH conseguiram foram resultados limitados a custos altos e incentivando comportamentos destrutivos. Em primeiro lugar, duvido que os recursos da empresa sejam melhor empregados em prover serviços de educação física do que em sua atividade fim. Segundo, aparentemente, pessoas que teriam buscado privadamente soluções para o problema em questão engajaram-se no comportamento oposto para conseguirem benefícios. Finalmente, aqueles que estavam em pior situação provavelmente fogem de uma academia como o diabo da cruz, e continuaram sedentários, comilões e beberrões.
Uma solução melhor para o problema? Muito mais simples, menos custosa, e adotada aos milhares no mundo todo: o mercado. Que tal um convênio para obtenção de descontos com academias e nutricionistas? Aqueles que estavam marginalmente dispostos a melhorar seus hábitos o fariam com os preços mais baixos. E sem um esquema paquidérmico para escolher os eleitos e investir espaço e recursos escassos.