quarta-feira, novembro 28, 2007

segunda-feira, novembro 26, 2007

Luzes

Edmilson olha para a grande tela que se extende iluminada bem no nível de sua casa. Nela, um personagem faz cara de tédio para o videogame de sempre. Sai de cena. Deve ser porque é muito mais bonito lá atrás. O copo dele ficou. Quanta coisa espalhada. Playboy, Edmilson pensou.

André olha através de sua janela e vê todas aquelas luzes. A distração custa-lhe a vida. Sem paciência para começar novamente, desliga seu game. Vai para o computador chatear com os amigos. Sabe muito bem que aqueles pontos iluminados aleatoriamente distribuídos morro afora são a favela que tanto o preocupa durante o dia. Muito mais bonita a esta hora.

sexta-feira, novembro 23, 2007

Quantas coisas guardadas em papel
E duma vez vêm avalanche
Pulam e variam na tela
Vêem tudo do inverso

Confesso que pensava que eram férias
Ou do contrário, um sem tempo de labuta
A julgar de minha parte
Férias coletivas, tal a calma deste espaço

Nessas horas, quando vejo a tela enchendo
Também me liga um botão
Relapso
alguém já disse, né, certamente,
mas, só para constar:
a arte dignifica a vida.

descobrir

às vezes
há nuvens
acesas
à noite

(cai de madura uma bela metáfora
ainda longe de mim)

o belo e a fome de ser outro

a ausência da falta no belo está implícita
tu não a notas
porque não costumamos notar ausências
mas ela está ali

o belo não aponta direção
(isso é coisa de link)
está completo em si
tu topas com o belo
e nunca o pega com reminiscências de um outro dia

se tu procuras uma nostalgia
encontras a mais refinada das homenagens
o belo sintetiza seus ídolos superando-os
e te parece além

e a memória que lhe solicitas
como prova de existência
documenta em certidões vivazes
bem-vindas as rugas, os desvios e as voltas

te pegas admirando o mais simples
equivalências que em ti escondes

chegas a pensar
que ao belo só faltava teu olhar

mas
pergunte ao belo
e vê se te respondes

se achasse alguma coisa
o belo acharia melhor
que seguisses te olhando no espelho

ah, desperdiçar assim o belo
como um canibal...

Cartas do imaginário

um leitor anônimo
e imaginário
(mas isto não vem ao caso)
pediu com todas as letras
(era um longo comentário)
que escrevesse novamente
sobre religião
(é uma coisa que toca as pessoas)
e eu disse mais ou menos o seguinte

cara, imagina assim
nasceste com uma puta curiosidade sobre tudo
viste que não dava pra colocar tudo na boca
pra pegar o gosto
aceitaste, melhor os rótulos
o embalado nas prateleiras
leste o mundo nos jornais
ouviste todo o tipo de gente
gente muito refletida
e foste descansar à sombra
à sombra de uma árvore que desconheces
e que, aliás, não fazes questão de conhecer
porque, lembra, não fazes questões.
assim, deitado
te parece o céu tão longe
imagina
levará uma vida até alcançá-lo
quiçá uma vida seja o preço de merecê-lo
(mas é só um azul, ou tampouco)
e tu não te posicionas como homem
não colhe os frutos, come os que caem
teu corpo é um acidente
esperando o tempo consertar

ah, as ferrugens
vê que deuses escolheste

ascende

tem uma sílaba de arte no ar
como um cochichar de vento

tem essa parte que chama no vento
que apaga logo em seguida

e eu vou
e eu vôo

e me verás nos céus, como estrela
irei bem alto, talvez longe

e mesmo que logo
serei pra sempre
e em seguida

quinta-feira, novembro 22, 2007

com razão o fim do sonho

(vivo o sonho sem saber)

povoam-me pares
de imagens díspares
em danças íngremes
nos sonos túmulos

(depois penso que sei)

despovoado
cegado em ilha
deserto náufrago
em passo trôpego

(alucino)

colho uma colméia

sento à mesa com as abelhas

meu veneno escorre doce

(choro quando bocejo)

sexta-feira, novembro 02, 2007

O verde continua se movendo, confundindo, vários tons, e eles bailam.
Combinando com ele, só que contrapondo, a janela uiva.
É triste
Mas mais que triste, agonia.
Dançam árvores, arbustos e bandeiras
toda a sorte de pássaros voam e param no ar.
Dançam ao gemido da janela.
Mesmo tão invisível
o vento se presta a tantas imagens, todas feitas com palavras.