segunda-feira, julho 31, 2006

Cisplatina

Após a decepção da partida cancelada, a notícia de última hora de que iria. Pouco tempo depois, tudo ameaçado novamente. A falta de preparativos parecia botar tudo por água abaixo, assim como estava a cidade de Porto Alegre naquele dia. Mas foi abaixo d'água mesmo que a falta de preparativos nos deu mais 2 dias. Sairiamos em 8 horas, tudo muito rápido, correndo, intenso.
Uma noite de pouco sono. Excitação, novidade, ignorância. Na manhã, o desembarque. Caminhar para conhecer. Força e perseverança na andança não planejada. O ar morno do paradouro nos recebeu, mas a curiosidade que a cidade nos proporcionava venceu. E voltamos ao vento.
Num país de carnívoros, fogo por todos os lados, pirotecnia gaudéria encarregando-se de aguçar nosso apetite. A saciedade do corpo não é a da alma. Imagens sendo aprisionadas com avidez e outras fomes, de outras carnes, nos levando para frente.
Novas amizades, por certo efêmeras, mas nem por isto não aproveitadas colocam-se. Novidades, curiosidades do que se conhece apenas pelas percepções de outros. Por fim, o cansaço vence.
Num outro dia, mais amizades, estas prometendo instalar-se, trazem novos ares, novas caras, novas idéias e um novo rumo. Andanças, mais carne, mais álcool. Frio, escuro, encontros, desencontros. Saudosismo do que não se viveu. Hasta mañana.
Consumir, consumar. Andar, conhecer, voltar e beber. As chamas que nunca apagam-se chamam para com elas ficar. Mas nem por isso ficamos. Teimosos, não querendo dar ao tempo um minuto de nosso tempo, preferimos a insônia voluntária. Boas supresas saxônicas. Frio, estupidez, uma triste mas justificada imagem do Brasil. Fome, desejo, repulsa, Led Zeppelin, satisfação, cama.
Tarefas e trabalho. O sentimento de dever e de perseverança é capaz de atiçar o mais relutante fogo. Teimosia reconhecida e diversão. Risos em tantos idiomas. Sexo, carros, frutas, cabras. Sorrisos lindos que não compreenderam que poderiam ser mais felizes em companhia de outros sorrisos. La noche. A escócia porteña. Culturas tão diferentes, desejos tão desencontrados. Impotência, libido desarmada pela inocência. Separação, solidão. O cansaço vence. Será?
No clima de despedida, o sol brinda com a possibilidade de mais sorrisos. Sorrisos que deixam saudade, pois sabe-se que nunca mais serão vistos novamente, a não ser que o destino, que todos sabemos não existir, queira pregar uma peça boa. Estafa e a sensação do que ainda está por vir.
Melancolia tão portenha e tão guaíba. Uma noite separa duas cidades capitais. Gaúchos as descobrem tão semelhantes.


Partes del campo (parte 2)
Sopla el viento y le silva el poste
escarchada la noche
Tras la escarcha como manto enorme
el paisaje congela
Monte chico pierde el horizonte
el molino chillando
Tinto aguado dame uno mas
uno mas
guitarra trapera
Detrás del sol
otra marea
detrás del sol…
¿the sun?
The sun is brightning
The sun is brightning
Like the sun
Girando en el mate en la espuma viene
Es el atardecer que el agua refleja
Y los teros pastan en el campo inerte
El cielo es donde las estrellas crecen



Esse juiz não há de comemorar o dia de hoje - o dia do orgasmo.

Diversité

Many languages hay en uno solo lugar. La confusión que haces in my cabeça: each head, uma sentença. Cervejas, viño, whiskey, todo in just one place. Junta-se a esto, many different speeches, viele stimmen, accents, visiones de um mundo que só exists en uno collectivo de mentes.
Ah, e cómo eran hermosas jene mädchen. Voluptuous chicas feitas de ouro, siempre laughing and shining e então, just like cinderelas, se van sueño...

Ele, passarinho [cem anos]

Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho!


O que é um século para um poeta?

sábado, julho 29, 2006

Banho de lua [na madrugada]

Se eu escrevo agora é para te buscar. Ah, minha Bianca, minha força. Como um sol logo ali, fogo vívido, atrás do horizonte entardecido. Sobre o tempo corre minha mão que escreve, as palavras buscam tua direção. Se vão como cometas e perguntam a cada estrela: onde está ela? Viajo um céu inteiro de saudade circular. Cada estrela me dá um abraço teu e assim eu sigo com mais força. Eu sei que tu passou por aqui. Estou perto, sinto o calor. A minha saudade encontra a tua bem no meio de nossa distância. Elas namoram e nos distraem com um beijo demorado, enquanto o tempo abre a porta pro dia nascer do outro lado. Como é bela a aurora em que se põe a saudade! Assim te espero.

sexta-feira, julho 28, 2006

Morte à exceção I

lama esterco pântano
flor
que horror destacar uma beleza
assim, só pela cor
só pelo contraste
que lástima pra natureza
essa veneração do diferente
a degradação do próximo

medalha sempre ao último
o último vencedor
aquele que entrou na batalha
e fez do sangue derramado
cor distinta do seu vestir
ora moda, ora amado
no altar de não ser
igual ao resto

funesta igualdade
- sobra rir
de ti, de mim,
de uma flor morta
sem qualquer mistério
que belo jardim
para um cemitério

Às barbas

Mais importante que ser é a vontade de ser. Felicidade? Um estado cômodo? Não quero! Eu quero mais!

"Quando menos se espera é que as coisas acontecem", que lógica burra essa, tal idiotice só se justifica porque não vê o leigo que exatamente por não estar à espera de algo é que surpreendeu-se, de modo que se estivesse atento, talvez pensasse "nossa, como nada acontece...", claro, ele está estático!

O tempo caminha sobre o rosto do rapaz. O tempo passa às suas barbas, ensina a andar. Mas ele escolhe ignorar, sua fuga encontra paz na eternidade, melhor dizer que, aí, estaciona na hipervelocidade de suas ações descontroladas.

quinta-feira, julho 27, 2006

Festival de Inverno na Cidade Fantasma

O Wikipedia conhece pouquíssimo sobre Eduardo Bueno, o Peninha. Fato totalmente desculpável, visto que é um site relativamente novo e produzido a partir de um sistema de cooperação e compartilhamento de conhecimento entre as pessoas. Aí estão: as pessoas. São elas, e aqui estamos falando mais restritamente dos porto-alegrenses, que desconhecem a si mesmas como cidadãos inseridos num mesmo espaço social.

Um belo evento como esse, o Festival de Inverno de Porto Alegre
, deveria lotar os teatros e salas onde, por quantias módicas ou gratuitamente, ocorrem dezenas de cursos, palestras, shows, todos muito interessantes. Até para justificar a promoção de mais eventos nesse sentido, extremamente valiosos que seriam no processo de formação cultural de cada um, com as abundantes e preciosas trocas de informação, de conhecimento, de experiências as mais diversas. Que diálogo é esse que não ocorre entre os habitantes dessa cidade? Que valoração à cultura é essa que a submete ao esquecimento?

É inaceitável que no Teatro de Câmara estivessem vazias metade das poltronas, ontem, enquanto o fabuloso Peninha discursava sobre verdades nem tão bem escondidas nos meandros de nossa surreal história (a do Brasil), as quais simplesmente fomos catequizados para não ver, não querer ver, não querer nem saber.

E que não se diga de que se trata de um problema da imprensa, falta de divulgação midiática, desacerto dos organizadores. Nós, porto-alegrenses, havemos de resgatar qualquer vontade de cultura, que é, em si, a busca pela própria identidade, tal como indivíduo, tal como ser social. Aí, somente então, poderemos estabelecer traços no horizonte que se coloca logo ali, nas barbas de nossa História. Como lembrou Peninha, um povo que não sabe daonde veio, tampouco sabe para aonde vai.

terça-feira, julho 25, 2006

Fui

Acho que volto

A face vermelha

Alguma coisa está errada quando tu ficas vermelho só de pensar. Vê só, que distinção nefasta a moral implantou em teu corpo, um alarme filiado em cada célula, como um big brother a delatar teus crimes. E que crime pensar! Se te viciaste a olhar sempre à direita, tua moral soará o alarme no primeiro sinal de ângulo que tua vontade natural ainda formar. E vice-versa. A moral coíbe, controla, divide e separa. E perpetua-se no DNA do indivíduo. Sim, a moral é desde sempre interna ao homem (não sejas tolo de pensar que fomos amaldiçoados por um servo do mal), é sua potencialidade que vem se manifestando quase como língua única de corpos que esqueceram há muito da língua libertária, o amor. A moral é avesso ao amor, o amor é amoral.

segunda-feira, julho 24, 2006

na cama, como a tua voz

me desperta
pro sonho
a tua voz

é música até
falando em física
faz cócegas em minha orelha

me molha
a tua voz de abelha
doce
me leva bem na ponta da língua
me engole

e eu fico rindo do teu passado
teu passado lindo
eu fico só rindo
simplesmente por ter passado por ti

melhor é acordar depois
e ver que tem nós dois
a cor do dia
dia
pra mais
vozes num gravador

Mais do mesmo

Será que vai ficando cada vez mais igual?
Se sim, qual a vantagem de buscar a novidade? As novidades repetem-se em gestos, em atitudes, em abordagens. Contar a mesma história, fazer as mesmas perguntas, dar as mesmas respostas. O mesmo nervoso, como são interessantes as pessoas que não conhecemos bem, queria ficar perto de ti, queria ficar longe de ti. Deixar tudo arrumado, Chico, vinho, espirituoso, agora? Depois? Ligar?
Vai chegar uma hora que o diferente é o igual?

Três de Amor X Moral

"Virtude e dever são duas coisas diferentes. O que fazemos por dever (coerção), não fazemos por amor, que é livre." (Kant)

"Ama e faze o que quiseres" (Santo Agostinho)

"A moral vem mais do sentimento que da lógica, mais do coração que da razão, e nós só sentimos necessidade dela pelo pouco amor que nos resta." (André Comte-Sponville)
Revolução em mim. O continuísmo estabelecido por ditadura tenta abafar, mas a veia comunicativa anuncia por meios alternativos que é repressão sim, e das brabas. O sangue do corpo - o povo - ferve, a temperatura sobe, mas aparentemente não há um líder com voz audível. A classe intelectual está confinada no cérebro tentando descer e chegar às massas pra informar sobre a situação real, ainda que não haja um consenso nesse sentido. Uma tropa de proteínas de laboratório está coibindo à força qualquer movimento rebelde, lágrimas e soluços. Um olho vê tv no volume máximo porque tem muito barulho na rua. A mão poetisa escreve linhas intermináveis tateando o mundo à sua volta no escuro. Uma árvore cai num lugar remoto da natureza e o coração estremece. É a vida.

domingo, julho 23, 2006

Triste Mente

Entrementes
Entre atos,
e corpos,
e copos,
e tetas.
Entre mentes,
cujas sinas, tristemente
partilham um mesmo canto
cujo encanto a rima escolheu.
Triste mente,
não desliga
externa observa
raciocina,
não absorve,
tristemente.

sexta-feira, julho 21, 2006

A maré

ó a maré
ó a maré de novo

vem bem, vem beijar a praia
beira-mar nua,
vem beijar a praia

ó a maré
ó a maré de espuma
descansada cor de lua
ó a maré de espuma

vem meu bem pegar a onda
onde?
ó a maré, não dá mais pé

perdi o chão meu amor
ó a maré, perder o chão?
é sim, flutuar assim feito espuma
ó a maré, olha a bruma
onde?
ó a maré, se esconde

ó lua branca, sentada no monte
santa da noite ao léu
ó a maré espelho do céu
ó meu amor, ó a maré depois a ponte
que eu me atiro e vôo
a ponte
que eu me atiro e vou

quinta-feira, julho 20, 2006

Teoria das Cordas


Site Oficial da teoria das cordas.
O Universo elegante, livro de divulgação sobre a teoria das cordas, do autor Brian Greene. O final de O universo numa casca de noz, de Stephen Hawking (o cara da cadeira) também apresenta a teoria das cordas.

Sociedade aberta em discussão

"Os pilares filosóficos da sociedade aberta" é o fértil e abrangente tema sobre o qual hoje discorreu (e amanhã discorrerá), na Faculdade de Economia da UFRGS, o doutor em Filosofia e professor da UFRJ, Alberto Oliva.

E hoje lá estava eu, presente. De forma muito didática, Oliva caminhou por muitos terrenos na construção de um painel elucidativo sobre a organização da sociedade, indo da economia à epistemologia, passando pela política e questões de cunho propriamente filosófico. Tudo de uma forma muito interessante, que fique registrado.

Definiu, primeiramente, "sociedade aberta" como um conceito fruto de uma visão da sociedade como de um processo, em permanente movimento, no sentido da superação dos seus problemas e aperfeiçoamento ou correção de suas propostas de solução. Citou a expressão "destruição criativa" do economista austríaco Joseph Schumpeter, falando da roda que viu, no seu progresso, a multiplicação dos automóveis em crescente substituição às carroças, cada vez mais raras.

A partir daí, fez uma verdadeira viagem, no melhor sentido, visitando diversos autores conforme as idéias fluiam, sempre dentro de um discurso racional, claro. Mencionou Hume na reflexão sobre o que supostamente aconteceria após a igualdade total, ao dizer que, neste ponto, começaria todo o processo de diferenciação novamente e que tal igualdade só se manteria por meio de algum governo totalitário. Mais tarde, voltaria a Hume, ao falar de particularidades da natureza humana - "O homem está entre o pombo e a serpente" - e com isso dizer, quando a conversa trilhava caminhos políticos, que o homem não é anjo de forma alguma, e que a política é também um mercado e feita por gente que sabe jogar. Quem não sabe jogar, é ingênuo a este ponto, não se estabelece - citou o exemplo de Leon Trotsky, intelectual e um dos líderes da Revolução Russa, que acabaria sendo posto de lado por Stalin, que se valeu de seu conhecimento de uma retórica e conhecimento da arte política de que Trotsky não dispunha.

Alberto Oliva lançou então a pergunta "que podemos conhecer?" e referiu-se então a outros pensadores como Montaigne, Kant e Max Weber, que em "A ciência como vocação" diz que cada problema bem formulado levará a outros problemas (e não à extinção de todos eles). Começa a falar de Estado, referindo-se a Hobbes, e finalmente chega a Marx, donde se estenderia quase até o final de sua palestra.

Marx chega com o seu discurso que contrapõe aqueles filósofos que, segundo ele, tiveram a única preocupação de interpretar os fatos, a sociedade, a natureza, quando as idéias devem vir para transformar tudo isso. Alberto Oliva critica bastante essa visão que se divorcia dos significantes reais para lançar um projeto de sociedade ideal. Aí, Oliva sublinha bem uma diferença que verifica, por exemplo, em "O Capital". Na produção de conhecimento, existe a realidade julgando as teorias, bem como a teoria julgando a realidade. As primeiras são facilmente reconhecidas, posto que são testadas empiricamente, postas à prova na natureza - exemplificou assim: o homem que disse que não, a água não necesariamente ferve a 100 graus centígrados, pôde colocar tal afirmação à luz da realidade e, de fato, provar que haviam outras variáveis envolvidas. Já com as últimas não é bem assim, e foi aí que citou "O Capital": segundo Oliva, Marx, nesse texto, inicia refutando, uma a uma, as teorias que vão ao encontro do modo de produção capitalista (falou de Adam Smith e Ricardo), mas que, a um certo ponto, Marx começa por atacar os próprios MPCs, o próprio advento do Estado, o que já é a teoria julgando a realidade, isso sem apresentar uma realidade alternativa sustentada por premissas realmente válidas, mas sim por algumas bastante questionáveis, como a que diz que a teórica ditadura do proletariado se dissolverá naturalmente.

O professor ainda falou sobre democracia e opinião pública, principalmente relacionando ao Brasil, onde crê que existe na verdade o democratismo. Isto porque a democracia de fato deve limitar sim poderes, estabelecer mecanismos de controle, distribuição (e não concentração) de poder.

No meio disso tudo, pôs de um lado os teóricos do Falibilismo, para os quais o conhecimento é falho e se convive com cenários de incertezas, concepção iniciada por Sócrates ("Só sei que nada sei.") e segundo a qual a verdade pode até ser alcançada, mas nós não temos como saber; de outro, o Justificacionismo, que trabalha com a idéia de que a realidade pode ser completamente justificada, linha por onde anda o racionalismo e o idealismo.

Duff Beer
Foi sem maldade, mas machuquei. Sinto que a sinceridade não é sempre o melhor remédio, ainda mais quando temperada com uma dose de sarcasmo.
Mas também, para que ferir a prestações? Numa patada só assusta... mas doi só uma vez.

quarta-feira, julho 19, 2006

Primeiras inspirações econômicas (dignas de suas refutações, contextualizações e complementos gerais)

Se não houvesse a preocupação com a escassez dos recursos naturais - se os recursos fossem todos, além de abundantes, inesgotáveis, e ainda os resíduos fossem totalmente reaproveitados.

Se tal condição fosse factual e praticada, ainda assim, parece-me, haveria o problema maior que é o acesso a tais recursos, as relações dos mercados, a sua organização e funcionamento, os limites dos espaços públicos e privados, o exercício do poder pelo monopólio dos recursos, de informações, de influências, a burocracia, a corrupção, as guerras...

Ou seja, não coloquem a culpa em quem fez o mundo. Se quiserem transferir culpa, coisa de fracos, coloquem-na no colo de quem fez o homem. Mas aí o problema vira trágico, pois tal covardia questionaria a qualidade de sua própria existência.

terça-feira, julho 18, 2006

O que o economista economiza?

Existe no peito de todo ser humano um estado inevitável de tensão entre os instintos agressivos e inquisitivos e os instintos de benevolência e auto-sacrifício. Está para o pregador, leigo ou clérigo, inculcar o dever de subordinar o primeiro ao último. É humilde, e freqüentemente odioso, papel do economista ajudar, na medida do possível, a reduzir a tarefa do pregador a dimensões controláveis. É sua função emitir um latido de advertência se vê que ações sendo advogadas ou buscadas aumentarão desnecessariamente a tensão inevitável entre o interesse privado e o dever público; e abanar sua cauda em aprovação a ações que tendem a manter a tensão fraca e tolerável.
D.H. Robertson, "What Does the Economist Economize?" Economic Commentaries (London: Staples, 956), p. 148.

segunda-feira, julho 17, 2006

O Cálculo do Consenso

O mercado e o estado são ambos dispositivos através dos quais cooperação é organizada e possibilitada. Homens cooperam através da troca de bens e serviços em mercados organizados, e tal cooperação implica em ganhos mútuos. O indivíduo entra em uma relação de troca na qual ele promove seu interesse próprio ofertando algum produto ou serviço que beneficia diretamente o indivíduo do outro lado da transação. Basicamente, a ação coletiva sob a visão individualista do estado é muito parecida. Dois ou mais indivíduos acham mutuamente vantajoso unir forças para alcançar certos propósitos comuns.
James Buchanan e Gordon Tullock

Uma canção de dois [+730 días]

São dunas e dunas e dunas...
vento algum não há
de levar

Grãos, grãos e grãos...
cada um, um oásis em si
e hão todos de ser lá
no fim de cada dia
um sol a descansar
no mar
no mar de mim e ti

Uma canção derramada
sobre um certo tempo
- o deserto tempo
de só ser -
e depois
melodia tempestade
meia noite descoberta
- dois
e dois anos além
dois também

Põe-se o sol
como um fim de refrão
como um fim de verão
diz que o dia insiste em nascer
pra ver deitar o novo*
...

virão anos, verão dias...

730 días - Jorge Drexler

No hay rincón en esta casa
que no te haga regresar.
Cada grano de memoria,
y la casa es un arenal.

Fuí a tus playas por el día
y allí me quedé dos años.
Fuí lamiendo tus heridas,
fuiste dándome un remanso.

A la sombra de tu luna
se acunó mi corazón,
se borraron mis arrugas,
mi casa se iluminó.

Germinaron mis canciónes
de las que yo merecía,
se paró el reloj de arena,
730 días.


*Marcelo Camelo

http://www.xenocryst.art.pl/antibiosis/

sábado, julho 15, 2006

sexta-feira, julho 14, 2006

Onde está o off? - ainda sobre mercados

Em frente à Faculdade de Economia da UFRGS, havia, até pouco tempo, um vendedor de churros - gostosos churros. Mas parece que ele resolveu tirar férias, claro, os alunos estão de férias. Deve ter simplesmente se mudado temporariamente para um local mais movimentado por alguns dias. Os mercados não são estáticos. Lembro do último carnaval que passei em Santa Catarina, Garopaba mais precisamente. "Ladrão não tira férias" se chamava o estacionamento em que deixamos o carro todas as noites na Ferrugem. O mercado não tira férias também, pelo contrário: os mercados se adaptam aos meios, os mais diversos e adversos, e fincam neles sua bandeira - talvez sua única imobilidade seja a de sua onipresença, pelo menos no mundo ocidental que conheço.

Isso me levou a outros mares enquanto caminhava-pensando entre o cardume de gente da Rua da Praia. Para os lojistas da calçada, aquele cardume era todo de consumidores potenciais, o que lhes obriga a sustentar durante um dia inteiro, dentro de suas possibilidades, uma falsa cordialidade. Pra vender! Até as capas dos livros dispostos na vitrine da Livraria do Globo soam forçosamente simpáticas. Consumir! Esse filmezinho em cartaz, Os Sem-Floresta, fui ver - e dublado. Além de me proporcionar boas risadas e algumas gargalhadas, tocou nesse ponto crônico da corrente espécie humana, a corrida desatinada ao consumo, raro exemplar de tamanha irracionalidade no mundo animal.

A "razão" do homem é que está por trás desses mercados, por trás de necessidades inventadas, conceitos de beleza e felicidade sacramentados. Estamos inseridos numa máquina que faz todo o tipo de trabalho pra gente. E ninguém mais sabe onde está o off.

quinta-feira, julho 13, 2006

Nota de Esclarecimento

Os editores deste blog vêm por meio desta tornar público que o post anterior não retrata fielmente os sentimentos do autor no momento da criação. A idéia original foi alterada para dar lugar a uma idéia mais plástica, ainda que não fielmente correspondente com a realidade.
Mesmo cansado, mesmo aflito, faço plantão, fico velando. Afinal, de onde menos se espera, daí mesmo é que não sai nada.

Desmanje

negociAÇÃO

De todas as negociações que conheço
muitas acabaram ou pelo ódio ou pelo tédio
(principalmente no Oriente Médio)
mas a nossa, interrompida pelo chamado laboro,
há de terminar no seu fim único – ação (e não vem com choro)

Negociação é uma partida de xadrez onde sempre vence a dama.

quarta-feira, julho 12, 2006

Eles de novo

Sim, eu não me canso de dizer: mercados estão em toda a parte.
Quem estiver passando ali na galeria Chaves, no centro de Porto Alegre, pode constatar algo interessante. Entra na Multisom e dá uma conferida nas ofertas de CDs. Depois, do outro lado da galeria, dá uma olhada nos discos oferecidos pelas lojas de discos mais "especializadas". Nas últimas, os mesmos discos custam o dobro do preço. Até aí, tudo bem, seria uma prova de que os mercados não funcionam.
Mas esperem. Por que alguém pagaria o dobro por um produto que custa a metade do outro lado da galeria?! A resposta mais razoável parece ser por falta de informação. Quem vai em lojas especializadas está a procura de artistas específicos ou de discos "difíceis". Quem vai na Multisom procura uma coletânea de novelas, "o mais vendido" (e não estou falando no último do Mombojó), ou, como eu, vai fuçar a loja toda em busca de "bons e baratos". As lojas da frente fuçam os balaios da Multisom, compram os títulos interessantes, e colocam na vitrine ao dobro do preço (freqüentadores de balaios notarão que estes discos só aparecem nas vitrines destas lojas especializadas depois de serem colocados em promoção na Multisom). Assim, a diferença é explicada por onde está a mercadoria: misturada no balaio do magazine ou na vitrine da butique (ainda que aquelas lojas não tenham aparência de butique).

segunda-feira, julho 10, 2006

Não é brincadeira



Gostaria de poder brincar com dados estatísticos como fazia com esses cubinhos bicolores depois de um longo Banco Imobiliário. Mas aqueles são tão sem graça...

Xadrez

Um bom enxadrista não joga sempre no ataque. Antes disto, ele executa seus movimentos de forma que leve o jogo a um objetivo específico, por ele pré-definido. O bom enxadrista conduz a partida para que seu oponente, ceda o xeque-mate com graça e elegância.
E é meu o 100° post deste blog! O que eu ganho?! Uma viagem à europa? Fama, fortuna e felicidade?
Não creio, a julgar pelas minhas informações sobre o dinheiro em caixa.

Café com net

O Léo mandou o link. Uma
invenção simples que pode se espraiar por aí.

sexta-feira, julho 07, 2006

O lado alegre do arco-íris

Chove, chove,
Chove todas essas tuas palavras!
E depois vê como secam!
Que palavras, que nada!
Desabotoa esses trajes!
Deixa-nos nus!
Conheça-me em braile!
Saiba-me de cor!

Chove, chove,
Essas lágrimas tristes!
E depois vê como eram vapor condensado!
Aquece essa atmosfera!
Corre pro Sol, deita na grama!
E deixa a gravidade nas sombras!

Interpretações

Da natureza e gênese

ao dividir as palavras como pão
que hão de fazer os democratas

de que modo semear os restos tais
sem criar pelo acaso armas atômicas

não
palavras não são pares
são inteiras, ímpares
toda palavra par é maldita e falsa
toda palavra par quer dizer o oposto

a palavra certa não se quebra
no máximo se reproduz

Comentário que surgiu no outro blog:
Toda palavra par é madita e falsa??? ai de ti! se souberes que o par é o melhor presente nesta vida.. jamais ousarias em escrever tal atrocidade. par é muito mais que uma palavra, é uma escolha, a que eu escolho. toda palavra par quer dizer o oposto??? realidade triste e contraditória a que descreves, mas não por isso verdadeira, não por isso a plena. Caro amigo, só se é inteiro, quando em par, paz.

Resposta - minha tentativa de contextualizar a poesia com o pensamento em seu instante de criação:
Veja só, amiga, quantas interpretações podem conter tão poucas linhas! Na verdade, falamos de pares distintos, veja bem: quando escrevi, o meu pensamento estava inclinado a falar sobre esses discursos fáceis de cair no gosto do povo, porque feitos de palavras dúbias, com sentidos muito pouco tangíveis, dizendo tudo ao mesmo tempo, sem se posicionar efetivamente, ou seja, dizendo nada. O "par", aqui, representa essa multiplicidade contraditória, que anula a si mesma, quebra-se. E o "ímpar" é pra ser o discurso que, dizendo o que disser - sendo de qualquer natureza -, é uno, no sentido de coerente. Mas esses teus "pares" e "ímpares" podem vir a render algum próximo post! Obrigado por comentar!

E tu, que opinas?

quinta-feira, julho 06, 2006

Tenho tendências a ser surrealista. Muitas vezes também enquanto estou acordado.

quarta-feira, julho 05, 2006

Sobre a beleza da fantasia (e talvez sua supremacia sobre a realidade)

Aos 49 minutos o goleiro Ricardo vai pra grande área tentar o empate. No rebote do escanteio a bola cai a seus pés. Ele vira-se para o gol, ajeita a bola, desloca o esférico um pouco mais para a frente e, ainda de fora da área, enche o pé e manda no canto do gol de Barthez. Ricardo não acredita, ninguém acredita, Felipão não acredita. Saem todos correndo sem rumo, sorrindo, gritando, pulando - é gol! Inacreditavelmente, é gol! Um milagre. Dois portugueses levam cartão amarelo, inclusive um reserva, pela comemoração de 3 minutos. A claque portuguesa também quer correr, mas não pode, então faz soar seu coro pela Europa inteira. Um grito desorganizado porque todo de emoção. Na verdade, no estádio inteiro não há pessoa que entenda o que aconteceu - nem o juiz, que dá mais dois minutos de jogo ilógicos. Felipão e Murtosa estão dentro do campo, sobre a linha lateral, enquanto o árbitro reserva tenta tirá-los dali, mas sem sucesso. Aí ele se une aos brasileiros e tenta avisar o juiz de que, de fato, não há mais tempo de jogo, mas com aquele barulhio* todo ele não ouve nem o fone plugado ao seu ouvido. Finalmente termina o jogo quando Zidane fala alguma coisa que não conseguimos ler em seus lábios. Há uma segunda entusiasmada comemoração dos portugueses.

Na prorrogação dá 2 a 0 Portugal. Os franceses não tiram da cabeça o gol de Ricardo.

*palavra inventada no meio da confusão

terça-feira, julho 04, 2006

Problemas além-derrota

Em uma competição, qualquer pessoa sensata trabalha com a idéia de derrota, no sentido de reconhecê-la como uma possibilidade. É necessário estar preparado - Parreira admitiu que não estava. Não me diga!?!

Eu, sim, digo mais: não estavam nem dispostos a competir, a essência de todo campeonato. Alguém viu algum esforço? Alguma indignação? Alguma luta? Certamente não. Tivéssemos visto, talvez eles fossem recepcionados como a Seleção Argentina, afinal, quem torce não clama por vitória, mas por vontade de vitória.

Seguíssemos o exemplo dos dignos hermanos, dos bravos portugueses, ou dos prevenidos e entusiasmados alemães, estaríamos com a honra salva. Aqui ou na Alemanha, não importa.

Os ossos do ouvido

música pra depois
de dizer
que não

quando tiver atenção, aí sim
pode vir pra mim
que eu te canto novamente

nada ver dizer
que é superficial
só porque ouviu
pela segunda vez

já que é pra depois
guarda lugar pra nós dois
entre martelo, bigorna e estribo

segunda-feira, julho 03, 2006

Será uma música?

Se parAR.../Já não quÉro mais
Não-des-faz asSIM os nossos laços
Que já não tem mais espaços
Pra gente viver só -->

-->Volta aquI!/ Deixa que Eu te pego a mão
Que eu já sei a direção
Pronde a gente deve rir

Quinze minutos pro carro partir
e o coração partido
mas não, não te envolve mais
com esse tal de sofrimento
que tem muito envolvimento
que termina em perdição

Toma esse anel
que é pra dizer - quando eu não disser
que eu te quero bem, meu bem
que eu te quero bem aqui
ou pra onde a gente ir
e veja bem - onde quer que tu esteja
que importa se eu te espero?
eu te quero, tu me quer - o quero é que importa
abre essa porta

quinze minutos pra gente parar de partir separados
no máximo juntar, repartir, reproduzir
sem deixar
Eu
de lado

Walter Franco


Site oficial: http://www.walterfranco.com.br/
Biografia: http://walterfranco.sites.uol.com.br/walter.html
Discografia: http://walterfranco.sites.uol.com.br/discos.html
Download de álbuns: http://lagrimapsicodelica.blogspot.com/2006/01/walter-franco.html

FIQUE MUDO

Não me pergunte
Não me responda
Não me procure
E não se esconda
Não diga nada
Saiba de tudo
Fique calada
Me deixe mudo

Seja num canto
Seja num centro
Fique por fora
Fique por dentro
Seja o avesso
Seja a metade
Se for começo
Fique à vontade

Não me pergunte
Não me responda
Não me procure
E não se esconda
Não diga nada
Saiba de tudo
Fique calada
Me deixe mudo

Propaganda - Vendem-se novas vacas

O carrapato avista um lombo saudável de uma vaca e se joga. A vaca não se incomoda, afinal tem muito, muito sangue nesse corpo, e o carrapato ainda promete trazer generosas quantias do melhor capim, já que tem bastante influência no mercado. Incrivelmente a vaca ganha peso, inacreditavelmente parece mais cheia de vida, talvez mais cheia de leite. Curiosamente ninguém prova do leite, mas ah, nem precisa né, afinal nós sabemos, olha só como ela está robusta!

O leite é vendido aos litros. Fazem-se queijos, natas, requeijão e todas essas utilidades que não pararam de inventar. Cosumidores são o que não faltam, finalmente o gosto lácteo é experimentado. As pessoas trocam olhares fugitivos, balançam a cabeça afirmativamente, falsamente convictos. "É bom." "Sim." "É bom mesmo." "É sim, tem um gostinho amargo no final mas é ótimo." "Tem? Não senti..." "Talvez tenha sido só impressão, mas o fato é que é bom." Os diálogos vão por aí até se estabelecer um consenso, ao ponto em que um menino é rapidamente repreendido por sua mãe quando faz cara feia ao mastigar um dos queijos e em seguida cospe-o fora. "Que vergonha!"

Quatro anos mais tarde, as reclamações reprimidas das crianças, por ocasião do Grande Concurso das Vacas (que aqui pode ser interpretado como as Eleições ou a Copa do Mundo sem prejuízo algum de entendimento), conquistarão adeptos cada vez mais numerosos, primeiro mais surpresos, depois mais indignados, antes mais comedidos, depois mais clamorosos, até se tornarem todos fantasticamente eloqüentes. Uma senhora mexe em sua panela enquanto profere tardiamente: "Eu sempre soube que ia dar nisso."

O carrapato, lá no seu way of life, apressa-se em procurar outras vacas, sempre se beneficiando do fato de ser muito pequenino, incorruptível aos olhos do povo.