O carrapato avista um lombo saudável de uma vaca e se joga. A vaca não se incomoda, afinal tem muito, muito sangue nesse corpo, e o carrapato ainda promete trazer generosas quantias do melhor capim, já que tem bastante influência no mercado. Incrivelmente a vaca ganha peso, inacreditavelmente parece mais cheia de vida, talvez mais cheia de leite. Curiosamente ninguém prova do leite, mas ah, nem precisa né, afinal nós sabemos, olha só como ela está robusta!
O leite é vendido aos litros. Fazem-se queijos, natas, requeijão e todas essas utilidades que não pararam de inventar. Cosumidores são o que não faltam, finalmente o gosto lácteo é experimentado. As pessoas trocam olhares fugitivos, balançam a cabeça afirmativamente, falsamente convictos. "É bom." "Sim." "É bom mesmo." "É sim, tem um gostinho amargo no final mas é ótimo." "Tem? Não senti..." "Talvez tenha sido só impressão, mas o fato é que é bom." Os diálogos vão por aí até se estabelecer um consenso, ao ponto em que um menino é rapidamente repreendido por sua mãe quando faz cara feia ao mastigar um dos queijos e em seguida cospe-o fora. "Que vergonha!"
Quatro anos mais tarde, as reclamações reprimidas das crianças, por ocasião do Grande Concurso das Vacas (que aqui pode ser interpretado como as Eleições ou a Copa do Mundo sem prejuízo algum de entendimento), conquistarão adeptos cada vez mais numerosos, primeiro mais surpresos, depois mais indignados, antes mais comedidos, depois mais clamorosos, até se tornarem todos fantasticamente eloqüentes. Uma senhora mexe em sua panela enquanto profere tardiamente: "Eu sempre soube que ia dar nisso."
O carrapato, lá no seu way of life, apressa-se em procurar outras vacas, sempre se beneficiando do fato de ser muito pequenino, incorruptível aos olhos do povo.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário