sexta-feira, abril 20, 2007

Apito inicial

É um jogo - exatamente um jogo. Muito complexo, é verdade. A questão se dá no acesso às regras, no modus operandi. Uma rede inapreensível de interferências, onde cada ser tem seu próprio ponto de vista, individual apenas como manifestação, posto que é influenciado pela infinidade de elementos copartícipes do jogo. É importante observar que a mencionada "individualidade apenas como manifestação" está associada precisamente aos pontos de vista. Um ser não é seu ponto de vista, nem age ou reage unicamente sob seus ditames - é, então, um referencial, constantemente se movimentando com o decurso da experiência. O referencial funciona como um ponto de partida, mas não é ele que gera o movimento do ser. Há o que Schopenhauer chamou vontade de ser. Esta vontade está associada ao mundo exterior, e, dessa maneira, pode entrar no jogo com atribuições de jogadora, já que tem acesso tanto aos dados da realidade como às potencialidades percebidas pela consciência. Ocorre que há uma relação de interdependência entre vontade e objetos exteriores, pois que são consumidos um na determinação do outro. Esta interação impõe limites, pois o sentido da vontade está sempre contaminado pelo mundo exterior, configurando-se assim dentro de suas dimensões.

O homem parece sofrer exatamente por desconhecer as regras que, talvez suponha, o libertariam. Ele quer querer. Da presunção de sua incapacidade para isso é que surge o medo e outras formas de não-ser. A realidade, então, está impregnada da negação de seres, e, mais, da afirmação e do acolhimento desta negação. A prática passa a dar-se pelo inverso. E, estranhamente, sentimos como que uma saudade de algo que não vivemos; e, estranhamente, temos esperança quando tudo, aparentemente, tende ao caos.

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