quinta-feira, agosto 24, 2006

Os cestos

Dois cestos. Um é verde; outro, cinza. Isto porque têm um propósito: separar lixo seco e orgânico. O fim é louvável e a todos beneficia. No entanto, é sabido que necessários são a regulamentação, a ordem de execução e a fiscalização, em processos que contrariam a prática do caos. Em condições naturais, verifica-se com facilidade, conduzem-se a conclusões tipicamente desvinculadas de preocupações que envolvam conceitos mais elaborados, como a ética - salvo sociedades mais avançadas em âmbito educacional. Muito maior é a parcela das populações que seguem as leis primitivas,-para citar alguns exemplos-, do simples contornar dos obstáculos e das vontades, por vezes excêntricas, sempre centralizadoras, do ego.

Por tal realidade é que um é verde; outro, cinza. Como é verde o sinal permissivo do semáforo, lembrando que legal e moralmente aceito é contribuir para a convergência, quem sabe universalização, das necessidades. O homem precisa ser lembrado, mais quanto menos educado. Se bem que é difícil desligar da memória o processo através do qual alguém é educado.

O fato é que cada cesto tem a sua cor específica. Os usuários é que são das mais diversas. E é sobretudo de cada um que dependerá o sucesso da empreitada, ou a sua derrocada. Ainda que as regras estejam normativamente estabelecidas, mesmo que tenham sido transmitidas com clareza, a operação estará sujeita às atitudes das pessoas, nem sempre constantes ou determináveis, como sabemos. O mecanismo da fiscalização tem, sem dúvida, uma essencial função de solicitar maior responsabilidade dos usuários, parece claro, estando atrelada à aplicação de penalidades para os casos que infringirem o estabelecido.

É preciso lembrar (o homem precisa ser lembrado) que, em certas instâncias, essa fiscalização pode acarretar em comportamentos não-esperados, dependendo do modo que é empregada. Sob o jugo do autoritarismo, tendemos a buscar a subversão e o radicalismo, ou seja, a não-cooperação. Daí o cuidado que merece a prática da inspeção.

Mas as nossas cestas não são vigiadas. Foi concedida a nós plena liberdade de ação, ou, pelo menos, foi reservada aos meios do convívio interpessoal a direção do projeto.

Alguém soube que os funcionários encarregados de recolher o lixo estavam misturando tudo no final das contas. Outro, teve a mesma informação, mas avisou a chefia. O primeiro passou a desacreditar no processo por inteiro. O último confiou na ação da chefe e continuou colocando cada lixo no seu lugar.

Obviamente, aqui, o papel da chefia é muito decisivo. Porém, é igualmente importante perceber que, tendo esta feito sua parte, não há definitivamente certezas sobre as respostas dos outros agentes do processo. Na verdade, o que se pode antecipar, com alguma propriedade, é que um ato que leve ao caos desencadeia outros tantos. E o costume dá conta da perpetuação do atraso.

4 comentários:

Arbº disse...

enquanto escrevia, fiquei com a idéia de fazer uma relação com corrupção... mas nem deixei ela me tomar primeiro porque tratei de começar e acabar o que tinha me proposto e depois porque me estenderia muito, e, ainda, sem muito conhecimento de causa, como nosso amigo, Felipe, que, por meio de seu TCC, tratando do tema, chegou à Brasília dos pizzaiolos

Anônimo disse...

Quem será "o primeiro" a quem te referes?

Arbº disse...

não entendi se a tua dúvida foi gramática ou BRDÉtica. Se foi gramática refere-se ao "alguém" anterior. Se foi mais específica, não é ninguém especificamente, o caso não é de todo verídico, ainda que possa ter acontecido.

Anônimo disse...

Ah tá...É que o caso é tão recorrente que pensei se tratar de alguém específico.