quarta-feira, agosto 09, 2006

Significante

A palavra pertence a mim,
mas só até ela sair da minha boca (ou da ponta dos meus dedos, não importa)
Liberta, se torna pública, com todas as mazelas inerentes
Sendo pública, é de todos. Se de todos, não é de ninguém.
Ninguém se importa com seu sentido, dão a ela o que lhes convém.
Prá que me preocupar então com significados? Formalismos a tornam fria
Se será torcida, prefiro cuspida
Mais bonita quando espremida, quando jorrada
brotando sem pudores, sem consulta.
Os sentidos da palavra pertencem ao ouvinte, ao leitor
Quem proclama se ilude, pensando autoridade
Não quis dizer porra nenhuma, disse o entendido.

2 comentários:

Arbº disse...

Gostei muito do manifesto.

Mas creio que se dizemos é porque queremos dizer, e isso porque queremos ser ouvidos. Porque queremos passar algum significado para as pessoas, os mais diversos. Para isso é totalmente necessário um aparato contextualizador, um acordo das partes sobre os termos, uma cumplicidade prévia sobre a linguagem. O que não tornará o processo perfeito, creio que nunca. Mas acho ser possível cada vez mais se afastar da imperfeição.

A comunicação pode sempre ser mais fina. As flores não comunicam, com sua beleza, aos polenizadores, onde encontrarão seu pólen? Ambos compreendem o significado de pólen, ainda que de fato coexistam aí dois significados. Talvez daí se possa concluir que mais importante do que saber o que se está dizendo ao outro, é saber o que se está dizendo a e sobre si mesmo.

E cuspir assim também pode ser uma boa forma de se comunicar.

Arbº disse...

retire o "mas" do meu segundo parágrafo, não tem sentido.