terça-feira, outubro 10, 2006

Quando um dia ensolarado começa pesado, sei que não melhora mais. Há dias estou assim e sei que é o excesso de compromissos. Não é o dia que está assim, sou eu. É café preto engolido às pressas, no estômago vazio, digerindo notícias lidas no mesmo ritmo, lidas para que não pareça um idiota para o primeiro idiota que encontrar. Na porta do elevador, me lembro das chaves do carro e volto. Em cima do armário, mesmo lugar de sempre. Aproveito para tomar um copo d'água e para pegar um disco para escutar no caminho. Baden Powell, o trânsito é o tempo que me dou para escutar música, coisa cara para mim. Cara, mas que andou perdendo espaço para outras, talvez mais urgentes. Luxo é elástico.
No carro, pego a direita, e o Fim Da Linha mistura-se com a lembrança de uma Ipiranga cheia. Gosto das ruas de Porto Alegre, das árvores, do clima provinciano, menos caótico. O ar condicionado, os vidros fechados, a música, tudo isso não me deixa voltar realmente para cá. Falta o mormaço, a falta de vontade hoje tem outras razões. Estranho preocupar-me com o trânsito de Porto Alegre, tendo vivido São Paulo. Viver São Paulo significa horas nos deslocamentos. É sair uma hora antes do compromisso para descobrir que um acidente parou tudo, e todos sabem que isto acontece, e ninguém quer saber, porque deveria ter saído duas horas antes.
Engraçado como o pessoal espantou-se quando disse que voltaria para cá. Não sofri seqüestro relâmpago e nem assalto, por que deixar Sampa? É claro que nunca ganharei aqui o que ganharia lá. O que eles não entendem é exatamente isto aqui. Árvores no bairro, poder tirar o pé. Mas eu não tirei o suficiente. Na garagem, vejo que tenho dez minutos para chegar ao escritório, o dobro do necessário.
Toca o telefone. É o Bruno? Não é do feitio dele ligar a essa hora da manhã.

2 comentários:

Arbº disse...

ei, não era tu?

Felipe disse...

Eu? Nem conheço nenhum Bruno.