terça-feira, outubro 10, 2006

Olhos de Édipo

"[...] Tomas acompanhava esse debate (como dez milhões de tchecos), e acreditava que haveria certamente entre os comunistas alguns que não eram assim tão ignorantes (deviam pelo menos ter ouvido falar dos horrores que tinham acontecido, e que não paravam de acontecer na Rússia pós-revolucionária). Mas é provável que a maior parte deles não soubesse de nada.
E ele dizia para si mesmo que o problem a fundamental não era: sabiam ou não sabiam? Mas: seriam inocentes apenas porque não sabiam? Um imbecil sentado no trono estaria isento de toda responsabilidade somente plo fato de ser um imbecil?
[...]
Nesse ponto Tomas se lembrou da história de Édipo. Édipo não sabia que dormia com sua própria mãe, e, no entanto, quando compreendeu o que tinha acontecido, nem por isso se sentiu inocente. Não pôde suportar a visão da infelicidade provocada por sua ignorância, furou os olhos e, cego para sempre, partiu de Tebas. [...]"

{A insustentável leveza do ser, quinta parte, capítulo 2 - Milan Kundera}

Um comentário:

Felipe disse...

Penso que o imbecil que assume ser responsável, ainda que fosse completamente inocente por desconhecer, está um degrau acima do imbecil que alega a imbecilidade.