sexta-feira, setembro 29, 2006

Desregras

Alguém acredita na extinção completa da corrupção? No desaparecimento de modos ilícitos de cooptação de votos? No fim dos discursos retóricos e demagogos? Talvez um otimista, diriam - eu digo mal informado. É irracional ou utópico pensarmos num processo democrático livre de todos os ruídos e desvios a que está submetido. Mas certamente algumas regras podem ser implantadas para tornar o voto individual representação de interesses cada vez menos suscetíveis a tendências externas operando por conveniência. Está claro que, na medida em que o eleitor precisa de alguma forma tomar conhecimento sobre os concorrentes, a informação que até ele chegar inevitavelmente passará por meios distantes da imparcialidade. Aliás, ainda crê alguém neste mito?

Parece menos pior, ou mais justo, deixar à sorte o egoísmo inerente às pessoas do que o egoísmo criado em laboratório e disseminado de maneiras silenciosas a berrantes. É verdade que alguns mecanismos já existem nesse sentido - temos o voto confidencial, pra citar o exemplo mais sedimentado, temos o boca-de-urna proibido, para citar o que é sempre notícia nos jornais. Mas quantas alterações seriam bem-vindas! Quantas são urgentes! O aperfeiçoamento do jogo eleitoral é medida não tratada nos nossos plenários. Não à toa, temos visto não outra coisa senão o abuso do poder, a impunidade, o apadrinhamento, a infidelidade partidária e o descaramento dos políticos.

Os eleitores viram peças fáceis em um jogo de regras insuficientes. A esfera política afasta-se da sociedade enquanto dá a falsa aparência de que tem o povo o poder de julgar os fatos que a perfazem. Falsa aparência! São tão somente os ditos representantes do próprio jogo político que fazem seu julgamento - o problema é que são, naturalmente, muito tolerantes consigo mesmos. Óbvio que, com esse sistema desregrado, tudo caminha para massa, molho de tomate, queijo, orégano e outros ingredientes menos comestíveis.

2 comentários:

Felipe disse...

Elegemos os políticos bons em... conquistar votos.
Qual o problema de criar um sistema eleitoral que privilegie os políticos bons em buscar o bem da sociedade? O principal é que ninguém sabe qual é o bem da sociedade.
Não sou completo pessimista, que acha que não há solução. Mas, infelizmente, nossas regras são feitas por parlamentares que se elegeram porque sabem jogar bem o jogo sob as regras vigentes. Qual o incentivo destes caras para mudar as regras para outras que não os favorecem?

Arbº disse...

grande maioria DESSES caras não tem incentivo algum, realmente.