quarta-feira, maio 17, 2006

Incentivos importam

Namorados esforçam-se mais no relacionamento quanto maior a probabilidade deste ir por água abaixo (mantendo-se constante, é claro, seu próprio interesse no relacionamento)?

Minha hipótese é de que sim. Mas acho que é preciso fazer a suposição de que o próprio namorado tenha um interesse não negativo na manutenção do namoro. Se permitirmos interesse negativo, a utilidade do namorado aumentaria com menos esforço (dado custo zero para encerrar o relacionamento).

13 comentários:

Arbº disse...

Necessito de ajuda:
O que quer dizer com "esforçar-se no relacionamento"?
E o que seria um "interesse não negativo na manutanção do namoro"?
O que é essa utilidade?
Responda-me, por favor, afim de que eu me familiarize com o economês (e também tentar responder).

Felipe disse...

O problema de elaborar modelos econômicos é que precisamos simplificar as coisas. Temos um ganho por sermos capazes de isolar efeitos, o que simplifica o entendimento. Entretanto, o mundo real não é simples. Assim, se quisermos testar empíricamente a hipótese, teremos que encontrar uma variável que "explique" bem "esforço no relacionamento". Intuitivamente, imagino uma combinação de tempo despendido em tarefas relativas ao namoro (com peso elevado), gastos monetários relativos ao relacionamento (jantares, presentes, ..., que eu acho que tenha peso menor, mas isto depende das partes envolvidas) e energia despendida em tarefas relativas ao namoro (peso alto).
Interesse não negativo na manutenção do namoro significa que o agente quer o namoro, que acha que vale a pena.
Utilidade é uma medida abstrata, que tem sua origem nos utilitaristas, dentre os quais o maior expoente foi Jeremy Benthan. Não somos capazes de medir utilidade, no máximo supor uma função utilidade para um indivíduo que seja capaz de explicar como certos movimentos em variáveis de interesse impactam a utilidade do indivíduo em questão. A idéia é da utilidade que o indivíduo deriva de certo bem consumido ou ação tomada. É um instrumento valioso para teorizar. Tu, por exemplo, esperava que a utilidade de assitir ao show do Mombojó e do Cordel era maior do que a utilidade de ficar em casa, computados todos os custos inerentes a cada uma das opções. Tu pode pensar na utilidade como o prazer derivado de uma ação. Isto não representa fidedignamente o que é utilidade, mas é uma primeira aproximação que pode facilitar o teu entendimento.

Anônimo disse...

Eu odeio as palavras "Utilidade" e "intuitivamente"... E o Portugal nem devolveu as provas ainda. Imagina depois...hehehe

Arbº disse...

Finalmente entendi! Vejamos:

Se alguém tem interesse em manter uma relação e alguma força está indo de encontro a isso, haverá um maior esforço em mantê-lo, como resposta a este estímulo desagregador. Isto, claro, desde que o interesse primeiro se mantenha.

É por isso que algumas pessoas não gostam de estabilidade num relacionamento, às vezes nem da estabilidade sadia (a que não é acomodação): porque vêem menos esforço, sentem-se menos amadas ou importantes.

Anônimo disse...

Pelo o que eu entendo (e depois da minha nota, sei que não é muito), tudo depende da função de utilidade do indivíduo e se ele é amante ou avesso ao risco, ou seja, se a utilidade do valor esperado é maior ou menor que o valor esperado das utilidades.

Arbº disse...

A Letícia me complicou de novo.

Felipe disse...

Rômulo,
Sobre o teu finalmente entendi. Primeira parte, é aquilo mesmo.
Segunda parte, não. No modelo por mim apresentado, não há nenhuma referência à utilidade de um indivíduo ser função da utilidade do outro. Não que isto não possa ser incorporado ao modelo. É simples, intuitivo, e não requer muita dificuldade na "matematização". No modelo que eu apresentei, a utilidade de um agente é uma função crescente da tranquilidade do namoro e decrescente no esforço despendido.
Sobre o comentário da Letícia, ela introduziu o conceito de utilidade esperada na discussão. Ele já estava lá, mas só implicitamente. para explicar o valor esperado de algo, vou usar um exemplo. Suponha que te seja dada a opção de comprar um bilhete de loteria. Ele custa R$10,00 e, com ele, tu tem a possibilidade de ganhar R$100,00 com uma probabilidade de 10%.
O valor esperado de não adquirir a loteria é R$10,00, isto é, tu sabe com certeza que terá R$10,00.
O valor esperado de adquirir a loteria também é R$10,00, isto é, os R$0,00 com que tu vai ficar se perder vezes a probabilidade de isto ocorrer, que é 90%, mais os R$100,00 com que tu vai ficar se ganhar vezes a probabilidade de isto ocorrer, que é de 10%.´
A utilidade esperada de participar da loteria é a utilidade que tu tem por participar da loteria com valor esperado de R$10,00. A utilidade esperada de não participar é igual à utilidade de ter com certeza R$10,00.
Se U(10)>0,9*U(0)+0,1*U(100), isto é, a utilidade do valor esperado for maior do que o valor esperado das utilidade, o indivíduo adquire a loteria.
Aplicando ao modelo, o que o indivíduo está apostando é esforço (que, para ele, parece ser caro). E ele está disposto a empenhar uma quantia maior deste esforço, quanto maior for a recompensa esperada deste empenho (a recompensa é o não término do relacionamento).
Na verdade, é menos complicado do que parece. O que complica é o pouco espaço e o pouco tempo para explicações e as intervenções complicadoras da Letícia!

Arbº disse...

Felipe, me expressei mal. Na minha segunda parte eu estava inferindo algo a partir da primeira, sabendo que ela não estava no teu modelo.

Teu modelo se aplica a um casal sadomasoquista? hehehe

Agora, pra entrar nessas questões felipianas-leticianas eu precisarei ler mais de uma vez, give me more time.

Anônimo disse...

Obrigada Felipe. Foi muito incentivador...hehehehe

Arbº disse...

Com a tua explicação mais desenhos, esboços, gráficos da Letícia, eu entendi. Creio que estava procurando algo na equação que explicasse o fato de um fator poder ser maior ou menos que o outro, sem me aperceber que isto se encontra naquele maldito U!

Felipe disse...

E cada pessoa tem um U daqueles. Por isso que algumas pessoas investem em ações, algumas põe seu dinheiro na poupança, e algumas emprestam seu dinheiro para algum maluco que tem um super projeto para um motor que usa água como combustível, que renderá milhões.

Felipe disse...

Não sinta-se desmotivada, Letícia! É que as tuas afirmações foram informação de mais para o Rômulo (foi o que me pareceu). Mas parece que tuas explicações foram úteis para explicar funções de utilidade côncavas e convexas.

Arbº disse...

Informação nunca vem em demasia quando associada a mecanismos que possibilitem entendê-la. Gracias aos dois. Agora: que projeto é esse Felipe? De algum amigo da engenharia? Tu que és o investidor maluco? Estás falando de água salgada, espero... Ou é alguma coisa que está na mídia e eu estou por fora?