quarta-feira, outubro 24, 2007

O viaduto

E, no entanto, o irrepetível repetiu-se. A subida a pé pelo viaduto da João Pessoa, à margem do grande Parque Farroupilha, proporcionou-me sensação semelhante. Era e é Porto Alegre. Meu caminhar determinando o movimento da cena, sol determinando luz e sombra, aos efeitos dos prédios. Um morro ao fundo, mas ao lado... ao lado uma aquarela de verdes, dos mais diversos. Como é lindo ver brotar da terra árvores tão eternas e tão silenciosas. A vida caótica de uma cidade desacontece neste fim de tarde. Eu sigo em câmera, lentamente vago pela cena, o pescoço sempre à esquerda. Lá embaixo tem um lago, meio verde escuro, meio preto de sombra. Há pontos que são tartarugas e riscos de peixes graúdos. O quadro me foge à moldura, quando tudo é irreparável, onde é que eu reparo? É uma esquina mágica, linhas tomando três dimensões. O lindo e antigo prédio da universidade, crescido às sementes do parque, que o vento atravessa uma rua. O conhecimento sintetizado numa construção sólida, mas sofrida do tempo, esperando por mãos restauradoras. Um quadro raro, sem pontos que fugissem, em que só o meu trânsito era trânsitório, mas nada de fugaz ali reteria minha memória. As copas, as grandes copas de dois verdes. Nunca é tarde para ver uma tarde assim, pintada nas árvores.

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