terça-feira, junho 19, 2007

Medusa às avessas

não dão sossego
ao tempo
ansiam pelo depois
correm pra vê-lo correr
morrem por vê-lo passar

(gente passatempo
todo mundo quer girar)

a multidão apressada
respira por indícios
num repente, outro início
a gente cega
não deixa sossegar

o amanhã nem amanhece
e aquela gente esquece
marca-se o espaço
atravessado em ponteiros
bengalas em punho e adiante

(bom dia é um dia escapado, veloz)

bebe-se da hora alheia
em cronometrada arena

perde-se no descanso:
a lança fere um ponto
e hora escorre por vão de artéria

soluços frenéticos de um dia passageiro
que engole o relento da noite

e em raras madrugadas
quando ninguém está olhando
o sereno desce ligeiro e deita
umedece a vida, teimando ainda doce
a vida lenta
a vida não admirada

(olhos de gente nunca chegam)

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