terça-feira, junho 12, 2007

She's not a girl who misses much

Madalena terminou seu café da manhã e subiu para buscar sua mochila. No banheiro, observou-se demoradamente enquanto escovava seus dentes com uma impaciência típica de seus 16 anos. Sentiu-se cansada e resolveu ser diferente aquele dia.
Antes de continuar, é importante conhecer um pouco mais de Madalena:
No dia anterior, Madalena passara a tarde rodeada por seu séquito. No anterior também. E antes desse, idem. Era bonita, como muitas gurias aos 16. Mas, mais que isto, afinal todo mundo têm 16 uma vez na vida, era confiante. Morena de cabelos lisos, sabia sorrir para conquistar e sorrir para magoar. As colegas davam tudo para serem eleitas, e Madá era tirana. Algumas menos dotadas ganhavam seus momentos de preferência e aproveitavam enquanto podiam. As preferidas desfilavam como artistas. Enquanto se contentavam em ser belas coadjuvantes, Madá tratava-as como iguais. Bastava não tentarem se impor e tudo estava resolvido. Enfim, tinha o mundo a seus pés (ainda que, aos 16 anos de idade, o mundo se resuma, basicamente, pelo seu colégio e alguns poucos grupos destacados de outros colégios da cidade).
Mas Madalena era assim muito por ser linda e por ter a oportunidade. Era esperta e sabia lidar com pessoas. Como por instinto, reconhecia os elementos de um grupo e orquestrava tudo a seu bel prazer. Ao mesmo tempo, ela tinha essa coisa por dentro. De quando em vez, precisava de solidão. Queria ficar sozinha, deprimia-se com isso, mas não podia lutar contra. Fora por causa disto que Sandra caíra.
Sandra era uma espécie de número dois. Eram inseparáveis. Ditavam o que era e o que deixava de ser. Onde ir e o que era engraçado, inteligente ou bobagem. Mas Sandra fez pouco de Madá quando esta, num ataque de melancolia fora de hora, mandou todo mundo embora e quis, desesperadamente, ficar sozinha, às três da tarde! Sandra caiu em desgraça no conceito de Madalena, e, conseqüentemente, do grupo todo. Hoje, Sandra é, condenscendentemente, autorizada a participar das reuniões, das festas, do recreio, como uma figurante "querida".
Pois, esta manhã, Madalena sentiu-se, mais uma vez, cansada de tudo isto. Deixou seu boné da Adidas em cima da cama e colocou o Panamá de seu pai. Olhou-se mais uma vez no espelho, pegou sua mochila e foi para o colégio. Quando estava chegando, alguma coisa houve. Todo o séquito com seus bonés levemente tortos olhou e se sentiu "out". Ainda que todo mundo em volta estivesse com um boné, a partir daquele momento elas não tinham certeza de que era a coisa certa a fazer. Madá sentiu o desequilibrio que tinha criado e sentiu-se desconfortável em saber que uma decisão sua era capaz de criar uma pequena revolução. Só sentiu-se confortável quando seus olhos encontraram os olhos daquela guria de preto, que usava um all-star e estava sozinha com seu mp3. Não sabia bem por que, mas ela entendia.

2 comentários:

Arbº disse...

no querer parecer diferente se é parecido.

Arbº disse...

será nesta fase que começa o parecer a confundir-se com o ser? Ou antes?