terça-feira, janeiro 30, 2007
Ainda nas férias, objetivo ler alguns mais prometidos que visita de cumpadre. Depois, iniciar nas leituras econômicas - nada a ver com o tamanho, mas sempre entremeando alguma filosofia, pra não me perder. Tem o Mãos de Cavalo do Daniel Galera pra continuar, A Ocasião do Saer pra acabar e mais uma porção desses que deixei pela metade. Não quero mais deixar pela metade, salvo os que não me agradarem - persistirei. O Grande Sertão do Rosa me implora a leitura há tempos, não posso mais negar. Tenho que ser rápido, a matemática se aproxima.
segunda-feira, janeiro 29, 2007
Primeiro
Este blog completou, neste mês, um ano de existência. Pela liberdade com que foi se construindo, quase que diariamente, fez-se tal qual um mosaico, de verso e avessos. Possivelmente o grande lema que me tem acompanhado, como um pano de fundo para os posts, é ditado por aquela única certeza de Sócrates. Pois, só não sabendo eu posso buscar alguma verdade - ou mesmo inventá-la. É assim que tenho, falo de minha parte, erguido esse blog, sobre os sólidos pilares da dúvida, que, antes de constuir, desconstrói - e conhece. Ou, pelo menos, tenta. Dos modos diversos com que se podem buscar as respostas, emerge este caleidoscópio, girando junto com o mundo, talvez em sentido contrário - mas junto - fruto direto das luzes que deitam sobre si. Cada fragmento deste blog não sou eu ou um pedaço de mim, mas a minha vontade de ser sendo outra vez aurora, mas nunca a mesma. Certamente sobram restos, e pedaços inteiros de inutilidades. Por isso é saudável dividir o espaço com um amigo e, numa dessas, ler comentários de um passante. Minha vontade não é minha propriedade, e a verdade é que minha palavra morre e nasce todo o dia, como a flor que só desabrocha na presença de um certo calor de vida - nunca no vácuo, ausência de aspiração. Caminho segundo as idéias que me são. E se elas modificam-se, troco a direção, o sentido - ou viro do avesso.
sexta-feira, janeiro 26, 2007
Com licença, vomitarei.
E, depois de anos, novamente. Sempre novamente, é tudo novo, e ao mesmo tempo velho. Que conceitos ainda valem? Parece sempre haver uma contrapartida anuladora. A gente segue como que participando de uma equação cujos termos não fogem muito de um desvio padrão, e avessos. De maneira que quase nada é certo, mas também quase nada é errado, e vide o diverso. É impressionante, tudo nos foge, como nada nos pertencesse. Ou, bem, que é pertencer? Tudo que não nos deixa transparente? As palavras, por exemplo. É como se não as dissesse - elas que me dizem, e sem pedir licença. Dizem supostamente subordinadas, mas quão independentes! Não tente entender frases feitas de verbos fugitivos! Ah, que perigo. A natureza humana vive sobre este e tais perigos. Ou estou dizendo bobagens. O que não livra ninguém da responsabilidade, talvez a única que nos caiba, de continuar sempre procurando algum sentido. Mesmo a loucura procura algum sentido - é como a ordem dentro do caos. E assim corremos ao infinito, coisa louca. E se não fechar o círculo? Terá valido a pena?
Veja como eu digo, mas só por um instante: toda força dispendida é a medida certa para aquilo que ela causa, mas também é o preço do que deixou de causar. Aparentemente temos aí um dilema eterno. Mas que eternidade é essa que se aplaca com uma decisão - por vezes uma inconsciente decisão? A vida de um homem não cabe na sua memória? Possivelmente nasci quando lembrei pela primeira vez, e isto não tenho idéia de quando aconteceu - me escapa. Voltamos a toda sorte de coisas que nos são escapáveis, das mais corriqueiras às grandiosas. A morte, entre as grandiosas, vez por outra encara e o duro de mirá-la é percebê-la inesquecível. E falo vez por outra para menosprezá-la. O menosprezo, note, é não mais que uma fuga, e o problema da fuga é ter os olhos virados para frente, para o oásis da salvação, que é sempre suposta. Isto porque parece haver alguma liberdade sem limites vislumbráveis a permitir devaneios, inchamento de egos e proclamação de todo tipo de verdades, geralmente para vencer batalhas contra o medo. Algum medo. Talvez desse vazio, filho da anulação. será da solidão?
E, depois de anos, novamente. Sempre novamente, é tudo novo, e ao mesmo tempo velho. Que conceitos ainda valem? Parece sempre haver uma contrapartida anuladora. A gente segue como que participando de uma equação cujos termos não fogem muito de um desvio padrão, e avessos. De maneira que quase nada é certo, mas também quase nada é errado, e vide o diverso. É impressionante, tudo nos foge, como nada nos pertencesse. Ou, bem, que é pertencer? Tudo que não nos deixa transparente? As palavras, por exemplo. É como se não as dissesse - elas que me dizem, e sem pedir licença. Dizem supostamente subordinadas, mas quão independentes! Não tente entender frases feitas de verbos fugitivos! Ah, que perigo. A natureza humana vive sobre este e tais perigos. Ou estou dizendo bobagens. O que não livra ninguém da responsabilidade, talvez a única que nos caiba, de continuar sempre procurando algum sentido. Mesmo a loucura procura algum sentido - é como a ordem dentro do caos. E assim corremos ao infinito, coisa louca. E se não fechar o círculo? Terá valido a pena?
Veja como eu digo, mas só por um instante: toda força dispendida é a medida certa para aquilo que ela causa, mas também é o preço do que deixou de causar. Aparentemente temos aí um dilema eterno. Mas que eternidade é essa que se aplaca com uma decisão - por vezes uma inconsciente decisão? A vida de um homem não cabe na sua memória? Possivelmente nasci quando lembrei pela primeira vez, e isto não tenho idéia de quando aconteceu - me escapa. Voltamos a toda sorte de coisas que nos são escapáveis, das mais corriqueiras às grandiosas. A morte, entre as grandiosas, vez por outra encara e o duro de mirá-la é percebê-la inesquecível. E falo vez por outra para menosprezá-la. O menosprezo, note, é não mais que uma fuga, e o problema da fuga é ter os olhos virados para frente, para o oásis da salvação, que é sempre suposta. Isto porque parece haver alguma liberdade sem limites vislumbráveis a permitir devaneios, inchamento de egos e proclamação de todo tipo de verdades, geralmente para vencer batalhas contra o medo. Algum medo. Talvez desse vazio, filho da anulação. será da solidão?
Sábado
Baixa a persiana e deita encolhido, como se estivesse com frio, e espera passar. Não passa. Mudança de planos. Veste uma camiseta já tirada e calça-se. As chaves. Volta ao quarto, revira a escrivaninha. Lembra-se do bolso da mochila, não precisou delas da última vez que entrou. Da porta recém aberta, passa o ar frio, encerrado do corredor que carece de ligação com a rua, ar de caverna. Do quente para o frio para o quente. Já fora, o mormaço de verão castiga, absorvendo o ânimo já escasso da tarde de janeiro. Árvores às vezes ajudam, ver verde acalma.
Num sonho estranho, como é a maioria, viu um professor, com o qual teve pouco contato, vestido de palhaço. Não é engraçado, é antes um palhaço triste. Palhaços são tristes, tristes ou malignos, não importa. Era só figurante. Importaram mais as escadarias intermináveis, que subiam e desciam, não lineares. Nunca se sabia ao certo onde tal caminho iria dar. E na pequena praça, debaixo de chuva, todo o tipo de tipos ameaçadores. A fotografia era escura, atmosfera abafada. Um quê de filme noir, mas em um clima de distopia. Tudo às avessas, pessoas estranhas, nenhum olhar cúmplice, a falta de uma referência, do porquê de tudo estar daquela maneira.
Nem cogita o ônibus e segue a pé. As ruas vazias denunciam o fim-de-semana e aumentam ainda mais a angústia. Homens num bar, uma dupla com uma cerveja, outro de pé no balcão bebericando qualquer coisa misturada com fanta, todos matando tempo. Pena ou inveja? Talvez ambos. Pela Redenção, aproveita a volta das sombras mas não gosta de ver pessoas felizes. Enfim, só corta caminho por entre bicicletas e chimarreiros. Pela André da Rocha, sobe a Marechal. Olha para os lados e entra na porta escura. O mesmo ar cavernoso, como se os corredores escuros fossem ligados por alguma galeria secreta e comum. Sobe os quatro lances de escada num só fôlego e para para respirar enquanto olha para a porta descascada no fundo do corredor. Bate na campainha, o olho mágico escurece, a porta se abre e Isadora convida para entrar.
Num sonho estranho, como é a maioria, viu um professor, com o qual teve pouco contato, vestido de palhaço. Não é engraçado, é antes um palhaço triste. Palhaços são tristes, tristes ou malignos, não importa. Era só figurante. Importaram mais as escadarias intermináveis, que subiam e desciam, não lineares. Nunca se sabia ao certo onde tal caminho iria dar. E na pequena praça, debaixo de chuva, todo o tipo de tipos ameaçadores. A fotografia era escura, atmosfera abafada. Um quê de filme noir, mas em um clima de distopia. Tudo às avessas, pessoas estranhas, nenhum olhar cúmplice, a falta de uma referência, do porquê de tudo estar daquela maneira.
Nem cogita o ônibus e segue a pé. As ruas vazias denunciam o fim-de-semana e aumentam ainda mais a angústia. Homens num bar, uma dupla com uma cerveja, outro de pé no balcão bebericando qualquer coisa misturada com fanta, todos matando tempo. Pena ou inveja? Talvez ambos. Pela Redenção, aproveita a volta das sombras mas não gosta de ver pessoas felizes. Enfim, só corta caminho por entre bicicletas e chimarreiros. Pela André da Rocha, sobe a Marechal. Olha para os lados e entra na porta escura. O mesmo ar cavernoso, como se os corredores escuros fossem ligados por alguma galeria secreta e comum. Sobe os quatro lances de escada num só fôlego e para para respirar enquanto olha para a porta descascada no fundo do corredor. Bate na campainha, o olho mágico escurece, a porta se abre e Isadora convida para entrar.
terça-feira, janeiro 16, 2007
quarta-feira, janeiro 10, 2007
Proust e o Gênio
... os que produzem obras geniais não são aqueles que vivem no meio mais delicado, que têm a conversação mais brilhante, a cultura mais extensa, mas os que tiveram o poder, deixando subitamente de viver para si mesmos, de tornar a sua personalidade igual a um espelho, de tal modo que a sua vida aí se reflete, por mais medíocre que aliás pudesse ser mundanamente e até, em certo sentido, intelectualmente falando, pois o gênio consiste no poder refletor e não na qualidade intrínseca do espetáculo refletido.
Proust, Marcel. À Sombra das Raparigas em Flor. Em Busca do Tempo Perdido, 2. São Paulo: Globo, 15ª ed, 2005, página 17.
terça-feira, janeiro 09, 2007
Canto do quarto
Música que canto por sentir
Sinto na pele o medo de cantar
Somente aceito, não minto
Por medo, decidi continuar
Canto abrigo, silêncio
Fecha mais ainda,
Fecha mais e mais
Fecha sobre si mesmo
Eis que flecha minha vida
Seta quebrando teu bloco de gelo
Tu congelada, encolhida
Desperta, posição fetal
Fatalmente desprezo
Qualquer felicidade que venha importunar
Foto, quadro em branco e preto
Minha melancolia fingida.
Sinto na pele o medo de cantar
Somente aceito, não minto
Por medo, decidi continuar
Canto abrigo, silêncio
Fecha mais ainda,
Fecha mais e mais
Fecha sobre si mesmo
Eis que flecha minha vida
Seta quebrando teu bloco de gelo
Tu congelada, encolhida
Desperta, posição fetal
Fatalmente desprezo
Qualquer felicidade que venha importunar
Foto, quadro em branco e preto
Minha melancolia fingida.
sábado, janeiro 06, 2007
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