quarta-feira, fevereiro 01, 2006

"Com a justificativa de participar de congressos e cursos de qualificação, vereadores e servidores de câmaras municipais estão fazendo roteiros turísticos pelo país com viagens custeadas pelos legislativos. " (Zero Hora, 01/02/2006)

O trecho acima dá muito pano prá manga. Em primeiro lugar, não são viagens custeadas pelos legislativos, mas viagens custeadas pelos cofres públicos. Mais, são viagens custeadas por impostos. Melhor ainda, são viagens custeadas pelos salários e demais rendimentos das pessoas que moram nestes municípios e também do resto do país, afinal, existem repasses dos estados e do governo federal para os municípios.

Outro ponto interessante é o papel da imprensa livre como instituição fiscalizadora da sociedade. Ainda que o reporter não tenha motivos nobres como lutar pela verdade (talvez ele só queira ganhar prêmios ou vender jornal, ou talvez seja um idealista mesmo), o resultado é o mesmo, e é isto o que importa. Existe quem ache que a imprensa deve responder a alguém. Mas, será que as preferências de um grupo são as mesmas de toda a sociedade (ou, vá lá, da maioria da população)? Talvez o grupo no poder em determinado momento fosse composto dos amigos dos vereadores turistas e, em agrado a seus compadres, os controladores da imprensa, nomeados pelos donos do poder, acabassem com os jornais, revistas, canais de rádio e TV que pudessem apresentar pudores cívicos e denúnciar a mamata. Ou, inversamente, talvez os inimigos dos vereadores turistas estivessem no poder e, por isto, estes nem teriam sido eleitos. Mas, quem sabe se os vereadores amigos dos inimigos dos vereadores turistas não seriam piores ainda? O que importa é que, sem uma imprensa livre, ficamos à mercê do grupo político no poder. E, sem a imprensa livre, o grupo político no poder pode utilizar sua influência para perpetuar-se.

Mais uma questão. Com as leis que temos, seria de se estranhar se nossos legisladores NÃO tomassem este tipo de atitude. Primeiro, que não é em qualquer emprego que se consegue receber alguns salários para ir para a praia passear. Se eu não espero ser pego (e eles pareciam ter certeza da impunidade) por que não fazer?! Segundo, com esta possibilidade aberta, quem irá se esforçar mais para ser eleito? Alguém honesto que pretende trabalhar pelo bem da população ou alguém que quer férias muito bem pagas? Garanto que o que espera usufruir das benesses do cargo despenderá mais recursos. Até porque, uma vez eleito, o desonesto tem uma fonte a mais de recursos de campanha.

É brabo mas é queijo.

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