Silvia caminhou sozinha através do parque escuro e escolheu um banco isolado o suficiente para pensar e desabou. Com certeza não convinha a uma guria, ou qualquer um que tivesse algo a perder, andar àquelas horas em tal lugar. Não via ninguém por ali, somente vultos que deslocavam-se por entre as árvores, como se o movimento fosse necessário para a sobrevivência naquele habitat.
Vinha da rua pouco iluminada que presenciara seu quase choro evidenciado por seus olhos vermelhos. Havia postes de quando em quando, intercalados por escuros que a protegiam. Mas ainda podia ser vista por qualquer estranho que passasse. Um rapaz fumando na janela do prédio da outra calçada a deixou mais envergonhada. Preferia sair dali.
Tinha há pouco descido do ônibus no qual o cobrador, o casal do segundo banco e o senhor no fundo olhavam-na como a um animal raro que quer explodir de tanto chorar. O motorista continuou a guiar mas, mesmo assim, a viagem pareceu durar uma eternidade, tantas voltas deu aquele ônibus. As curvas misturadas com sua cabeça cheia deixaram-na enjoada. Precisava urgente de ar fresco.
Saiu do prédio sem saber se sentia raiva ou uma tristeza vazia e escura e que toma o lugar de todas as outras coisas até deixar tudo completamente gelado. Não era a primeira, mas não sabia se não era a última. Os seus olhos tinham uma coisa diferente desta vez. Ele disse e mirou prá acertar. Ele escolheu as palavras pela dor que elas trariam.
3 comentários:
ficou legal andar pra trás até as palavras secas
aliás, a última frase, que seria a primeira, foi a melhor
usei
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