Fôra devidamente avisado sobre a natureza daqueles homens, cheios de dúvidas. Preparou-se para um arsenal de perguntas como quem se prepara bem para um arsenal de perguntas: juntou um punhado de substantivos bem substantivos e não economizou energias em trabalhar nos melhores adjetivos. Era simples, mas potente, tinha certeza.
Debruçou-se na tarefa de distribuir didaticamente as palavras pelas frases e chegou a testá-las no ar. Eram belas as frases suas. E diziam tudo. Ainda assim, fez lembretes pra animar a memória. Via-se municiado de todas respostas.
Foi quando um homem só lhe pregou a peça. Um homem muito só. Tão só nesta vida que desacompanhado da mais elementar das dúvidas. Um homem que, antes de não saber, não detivera a sombra do que um dia chamou-se pensamento. Este homem, que nunca pensou, não podemos dizer que era um ignorante.
Pois bem, foi este homem que nem chegava a ser ignorante que o deixou mudo, frente a tamanha pergunta. Uma questão cínica de tão tarde que lhe vinha bater a porta. E trágica, pois parecia acelerar o tempo de uma forma absurda, que seu coração nem faria menção de acompanhar. Estático, boquiaberto. Certamente fôra neste instante, no instantâneo deste instante, que lhe entrara pela boca a pergunta do outro, e foi tomar seus pulmões. Ar. A pergunta lhe salvara. Mas como viveria com uma dúvida daquelas?
quinta-feira, março 06, 2008
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