Infindáveis vezes proclamou de peito aberto sua liberdade. E outras tantas precisou adiar seus planos por pequenos compromissos ou acasos. Desta maneira, Carlos viu seu chão se abrir e seu mundo escorrer pela fenda a seus pés. Seu mundo naquele momento resumia-se basicamente por Maria Teresa, a quem tinha em grande consideração e por quem pensava já ter feito notáveis sacrifícios. Mas, a julgar pelas atitudes (melhor dizendo, pela atitude) da moça, barulho não significa grande coisa para ela.
Maria Teresa não se contentava com palavras, mesmo quanto a grandes gestos ela era retiscente. Ela acreditava muito mais nos pequenos gestos do cotidiano, na vida que se leva quando não se está provando nada para ninguém. E era aí que Carlos falhava, de acordo com os critérios de Maria Teresa. Carlos era dependente. Dependia de sua rotina, dependia dela, Maria Teresa, dependia da aprovação dos pais e dos amigos. Afirmar-se livre era para ele grande feito, mas para ela não tinha valor.
Pois desta vez parecia que era definitiva a perda de Maria por Carlos. Como foram todas as outras, enfim. Mas esta era ainda mais definitiva. Ela esgotara todas as suas paciências (uma das virtudes de Maria Teresa era não ter apenas uma, mas várias paciências). Argumentara e perdera contra uma compulsão. E Maria Teresa queria ser, tinha que ser, a maior compulsão de Carlos. Carlos fumava, mas o fazia só para demonstrar sua independência dos pais (aos 32 anos, convenhamos...). Com isto Maria podia lidar sem grandes esforços.
Maria Teresa não lidava. Não conseguia ser indiferente, não podia. Não conseguira acabar com a mania de Carlos de lavar seu cinzeiro a cada cigarro que fumava. E o cara fumava uma carteira por dia. Não podia ver alguém lavar um cinzeiro 20 vezes por dia e ainda querer explicar que havia lógica por trás disto.