segunda-feira, dezembro 15, 2008
terça-feira, novembro 25, 2008
quarta-feira, novembro 12, 2008
sábado, novembro 08, 2008
Guanabara
Aqui as nuvens são diferentes
Formam-se aqui, são nativas
Lá (aí) são importadas
Vêm de fora, chegam prontas
Lá (aí) as coisas são diferentes
A água é gelada
Fria, de renguear cusco
Já aqui, também
Eu sento na sombra e olho a volta
Mas não deixo o guarda sol
Ainda receio um pouco
Olho da janela
Escureceu e molhou
E os mendigos formam fila para dormir.
Formam-se aqui, são nativas
Lá (aí) são importadas
Vêm de fora, chegam prontas
Lá (aí) as coisas são diferentes
A água é gelada
Fria, de renguear cusco
Já aqui, também
Eu sento na sombra e olho a volta
Mas não deixo o guarda sol
Ainda receio um pouco
Olho da janela
Escureceu e molhou
E os mendigos formam fila para dormir.
quarta-feira, outubro 01, 2008
"Wonderful theory, wrong species"
Edward O. Wilson, sociobiólogo, sobre o marxismo, que seria mais adequado às formigas que aos humanos.
Edward O. Wilson, sociobiólogo, sobre o marxismo, que seria mais adequado às formigas que aos humanos.
terça-feira, setembro 30, 2008
terça-feira, setembro 23, 2008
Salvando pedaços
É em partes que a coisa anda
Desenha curvas com seu rastroRiscos bifurcados
Rostos rasgadosE um sono profundo
De ontem em diante tomo uma atitude...
... não, minto,
paro e retomo. Agora sim
É difícil linkar,
emoções não têm memória
Sentem, a cada hora
E cada vez, sentiram sempre assim.
Licença agora.
Podia lapidar um pouco mais,
Esperar outro retalho.
Mas não.
Chega de deixar para trás.
quarta-feira, agosto 20, 2008
Guardar - Antonio Cicero
Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso melhor se guarda o vôo de um pássaro
Do que um pássaro sem vôos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso melhor se guarda o vôo de um pássaro
Do que um pássaro sem vôos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.
sábado, agosto 16, 2008
Novamente, os incentivos
Dois grupos de tamanhos equivalentes, com objetivos semelhantes, atuando sob as mesmas regras e em um mesmo "mercado". De posse da informação que a remuneração total dos integrantes do primeiro é 4 ou 5 vezes a remuneração do segundo, a teoria econômica indicaria que aquele teria um desempenho superior ao deste, tudo o mais constante. Entretanto, ao observarmos os 2 maiores clubes de futebol do Rio Grande do Sul, a evidência empírica sugere exatamente o contrário. Enquanto o Grêmio, com um grupo de jogadores de baixo custo para os padrões da primeira divisão do Campeonato Brasileiro, sustenta a liderança em praticamente todos os indicadores de desempenho, o rival Internacional, com um dos grupos mais caros do futebol nacional, não consegue avançar para além de posições intermediárias na tabela de classificação.
Será que, para o futebol sul brasileiro, a teoria econômica não se aplica? Ou será que a relação correta é quanto mais barato um jogador, melhor seu desempenho e quanto menor seu salário, maior será seu esforço em prol do grupo? Creio que, se esta fosse a relação correta, clubes como o São José de Porto Alegre ou o São Luiz de Ijuí seriam, sistematicamente, mais bem sucedidos do que a dupla Grenal no Campeonato Gaúcho, por exemplo. Assim, é necessária uma explicação mais convincente para este fato.
É preciso registrar que tudo o mais não é constante. Mas, ainda assim, as diferenças parecem apontar em favor do Inter. Diferenças de entrosamento entre os grupos de jogadores poderia ser responsável por uma diferença de desempenho que compensaria a superioridade das peças individuais do Inter. Mas, o grupo tricolor é até mais novo que o grupo colorado. O grupo que vinha jogando até o meio do ano no Inter se conhece a mais tempo e já era mais caro e mais bem remunerado.
Neste ponto, um esclarecimento, se faz importante. Estamos supondo (alguns vão discordar) que os dirigentes não são idiotas. A implicação prática disto é que um jogador custa caro porque já mostrou que é bom. Um jogador é barato ou porque é ruim mesmo, ou talvez porque ainda é muito novo e não sabemos muito sobre suas capacidades. Sim, existem exceções. Um fulano em algum time da série C que nunca recebeu a devida oportunidade, ou o estrelinha que é contratado por rios de dinheiro e não joga nada. Mas podemos inserir estas assimetrias informacionais ao modelo sem problemas. A qualidade de um jogador segue determinada distribuição de probabilidade cuja média aumenta de acordo com seu preço.
Além da qualidade, uma outra variável que pode influenciar o desempenho do grupo é o esforço de cada um dos seus integrantes. E é razoável supor que o desempenho esteja diretamente relacionado com este esforço. E por que alguns ou todos os jogadores haveriam de se esforçar? O esforço não é uma variável diretamente observável. É difícil afirmar que um jogador está dando o seu máximo ou se ele está "enganando" um pouco. Ele sabe melhor que seu treinador se poderia correr um pouco mais ou focar-se mais nos treinos. É do interesse do clube que seus atletas se esforcem ao máximo, dêem seu sangue pelo clube. Mas, para o atleta, o esforço é um custo, como em qualquer outro trabalho. Pois, porque o esforço não é diretamente observável, pagar altos salários pode até ajudar a trazer jogadores talentosos, mas não necessariamente os incentiva ao máximo esforço.
Uma possível resposta para a diferença de desempenhos apareceu na imprensa especializada na última semana. De acordo com o site de notícias esportivas do Terra, "no Grêmio, metas alcançadas valerão prêmios em dinheiro". Valores crescentes são oferecidos ao grupo de acordo com as conquistas no Campeonato Brasileiro. Cada rodada dentro do grupo que se classifica à libertadores rende R$50 mil ao grupo. Uma vaga para a Copa Sul Americana vale R$800 mil. Um lugar na fase preliminar da Libertadores vale R$1,5 milhões e uma vaga direta R$2 milhões. O título do brasileirão vale R$3 milhões para serem repartidos entre o grupo.
Confesso que não sei como funciona a política de remuneração variável no Internacional. Mas, caso a maior parte da remuneração do elenco colorado seja composta por salários fixos, então, a diferença de desempenhos é bem explicada pela compatibilidade de incentivos nos dois grupos. A compatibilidade de incentivos é uma característica do comportamento de indivíduos em grupos nos quais a melhor estratégia de um indivíduo é seguir as regras. Supondo que grande parte da remuneração dos gremistas é variável enquanto a remuneração dos colorados é toda ou principalmente fixa, os dirigentes gremistas souberam desenhar regras que garantem compatibilidade de incentivos entre o clube e os jogadores. Isto é, a melhor estratégia para os jogadores é um alto esforço. Como o desempenho (variável observável) relaciona-se diretamente com o esforço (variável não observável), o tipo de contrato desenhado pelos dirigentes gremistas oferece alta remuneração para bons resultados e má remuneração para maus resultados. enquanto isso, para bons ou maus resultados, os jogadores colorados recebem o mesmo salário. Logo, os objetivos do clube, títulos, não são os mesmos dos seus jogadores, alta remuneração e baixo esforço.
É evidente que estes não são os únicos motivos que explicam o atual momento dos dois clubes. Fatores como presença de lideranças, ambiente de trabalho e tantos outros fatores sujetivos (o famoso jargão, futebol é momento) são tão ou mais importantes para explicar os desempenhos dos dois times. Também, os jogadores não são máquinas que procuram tirar o máximo de dinheiro dos clubes e descansar o máximo possível. O simples fato de colocarem um título a mais em seus currículos seria motivo para aumentar o esforço despendido. Mas, não há como negar que o dinheiro é um excelente incentivo de curto prazo e que o tipo de contrato a que cada grupo está sujeito deve explicar, ao menos uma pequena parte, de porque o grupo mais fraco apresenta desempenho tão superior ao do grupo claramente mais forte.
segunda-feira, agosto 11, 2008
falt'ar
corredor de espelhos
(a fuga não procede)
caminho em cacos
vãos e falsos
não penetra uma luz
não sobra um escuro
é tudo tão sem falta
falta de fim
e de começo
ah, a vida ao avesso
olho no espelho que trai
distrai
um cômodo átono
de fôlego trôpego
rio represado
(a fuga não procede)
caminho em cacos
vãos e falsos
não penetra uma luz
não sobra um escuro
é tudo tão sem falta
falta de fim
e de começo
ah, a vida ao avesso
olho no espelho que trai
distrai
um cômodo átono
de fôlego trôpego
rio represado
quinta-feira, julho 24, 2008
Folha
Uma folha de papel
com teu nome
diz
me espera
Encontrei no fundo
da gaveta
da memória
uma foto
Uma foto
bem da época
em que eu
que dava as tintas
Hoje não
hoje sento
olho a folha
e te espero.
com teu nome
diz
me espera
Encontrei no fundo
da gaveta
da memória
uma foto
Uma foto
bem da época
em que eu
que dava as tintas
Hoje não
hoje sento
olho a folha
e te espero.
sexta-feira, julho 18, 2008
segunda-feira, junho 23, 2008
segunda-feira, junho 02, 2008
aurora
lá vem
e é bom
ouvir
antes que se fosse
tarde de
retornar pra ventura
de velejar nesse barco
de mais verso
e é bom
ouvir
antes que se fosse
tarde de
retornar pra ventura
de velejar nesse barco
de mais verso
segunda-feira, maio 26, 2008
De volta ao mesmo lugar
Meu retrato no fundo do quarto
Do quarto escuro, lá do outro lado.
Eu num agosto passado.
Eu num maio presente
No pátio, nos fundos
O gosto de frutas, passado.
Subo de volta e não paro
Invento de novo
Agora é um mate
Receio num clique
O mundo empacou
Daqui eu não saio.
Do quarto escuro, lá do outro lado.
Eu num agosto passado.
Eu num maio presente
No pátio, nos fundos
O gosto de frutas, passado.
Subo de volta e não paro
Invento de novo
Agora é um mate
Receio num clique
O mundo empacou
Daqui eu não saio.
terça-feira, maio 20, 2008
quinta-feira, abril 24, 2008
quarta-feira, abril 09, 2008
quarta-feira, março 26, 2008
terça-feira, março 25, 2008
III Canto - I rascunho
Um pé no chão
e outro suspenso
quem sabe dançando
a fogo lento
A vida chama
que acende e queima
vida derrama
um balde de tinta na gente
E a gente vela
e desvela
a gente tenta
Pô-la na tela
Fazemos arte
a gente parte
e a vida
cumprimenta
Música: Gabriel Marques
Letra: Rômulo Arbo
e outro suspenso
quem sabe dançando
a fogo lento
A vida chama
que acende e queima
vida derrama
um balde de tinta na gente
E a gente vela
e desvela
a gente tenta
Pô-la na tela
Fazemos arte
a gente parte
e a vida
cumprimenta
Música: Gabriel Marques
Letra: Rômulo Arbo
Não consegui postar o link pro Cê, último do Caetano (2006, eu acho, mas nunca tinha ouvido). Então deixo uma frase dele que certamente antecipa um post meu, dita numa entrevista pra Folha, também lá por 2006. Mas se não ouviu o disco, procura e ouve, achei muito bom. E olha que nunca fui muito de Caetano.
Fica a frase...
"A esquerda é como torcida de futebol. As pessoas ficam cegas. Eu sou um simpatizante da esquerda por sede de harmonia, de dignidade e de Justiça. Mas vejo freqüentemente que a esquerda é quem mais ameaça essas coisas que me levaram a me aproximar dela."
Fica a frase...
"A esquerda é como torcida de futebol. As pessoas ficam cegas. Eu sou um simpatizante da esquerda por sede de harmonia, de dignidade e de Justiça. Mas vejo freqüentemente que a esquerda é quem mais ameaça essas coisas que me levaram a me aproximar dela."
Odes
quem sobrevive ao des
contexto?
ninguém contesta
- ninguém, constato
des
ocupa lugares
que nem ares
vão
des
de tudo o avesso
de nada também
...tem
des
cubro de versos
de poucas palavras
um único lúcido,
um único louco
des
arranjo dois tempos
e tento curá-los
espelho
mas sem solução
des
vi o olhar
de um desses óbvios
dessas causas, desses efeitos
des
acordo no meio
de uma aflição
des anima o profeta, o cometa e o avião
des arranca dores
amores e heróis
destrói a obra que começa
e a constrói num outro des aviso
des
liga a tv
passa o café e
cansa
desmorona também
aquele que mora
contexto?
ninguém contesta
- ninguém, constato
des
ocupa lugares
que nem ares
vão
des
de tudo o avesso
de nada também
...tem
des
cubro de versos
de poucas palavras
um único lúcido,
um único louco
des
arranjo dois tempos
e tento curá-los
espelho
mas sem solução
des
vi o olhar
de um desses óbvios
dessas causas, desses efeitos
des
acordo no meio
de uma aflição
des anima o profeta, o cometa e o avião
des arranca dores
amores e heróis
destrói a obra que começa
e a constrói num outro des aviso
des
liga a tv
passa o café e
cansa
desmorona também
aquele que mora
A vígilia (começa no sonho)
Dava-se assim. Sobre seu ombro tagarelava uma ave de penas aveludadas. Seus olhos diziam apenas - sem sobre isso deixarem dúvidas - que a habilidosa língua não cansaria nas horas vizinhas (eram olhos a verem dois lados de uma só vez, conscientes da enorme fila de idéias que se amontoavam na mente insana daquele papagaio). Seu ouvido direito, que tinha o privilégio de ouvir as últimas sempre em primeira mão, já funcionava como uma dessas desconhecidas vias por onde passavam seus próprios pensamentos, de modo que poderíamos dizer, sem prejuízo algum, que era a ave a pensar por ele - pelo menos enquanto desperta. É verdade que seus sonos nunca coincidiam, já que o silêncio, para ele, ganhara tons insuportáveis. Não falava, o dono do ombro - pelo menos não enquanto desperto. E, provavelmente, seus textos oníricos fossem uma desordenada reverberação do que ouvira em vigília. Do sonho pulavam palavras como peixes exaustos de água. Eram breves os saltos e logo o mergulho. Num dos raros momentos, o ar preso, o ar tenso, um raio de luz servindo de linha, uma palavra como que pescada - e, ao mesmo tempo, salva - de um profundo e negro pesadelo. E não foi murmúrio, não teve o azedo da boca. Foi como um soluço, sintético e dono de si. O dono do ombro disse e quem teve perto ouviu; o mais distraído ouviu. Ouviu o irrepetível.
E depois também sonhou.
E depois também sonhou.
segunda-feira, março 24, 2008
Desabar
enxada não é uma palavra pontiaguda
como faca
mas dói a pancada
- dói pacas
ele escolheu palavras secas
nada que a atravessasse
algo que matasse
por hemorragia interna
burilou uma alavanca de metal
em uma dúzia de sílabas
uma frase rasteira, os olhos cínicos segurando o tempo do tombo
o tempo do tombo pesando, a cabeça
enxada
não fez corte, não foram palavras pontiagudas
a morte foi interna
e as lágrimas já nem eram de desilusão
desabaram de um corpo tombado, vítima de enxágue
morreu numa cascata acidental
como faca
mas dói a pancada
- dói pacas
ele escolheu palavras secas
nada que a atravessasse
algo que matasse
por hemorragia interna
burilou uma alavanca de metal
em uma dúzia de sílabas
uma frase rasteira, os olhos cínicos segurando o tempo do tombo
o tempo do tombo pesando, a cabeça
enxada
não fez corte, não foram palavras pontiagudas
a morte foi interna
e as lágrimas já nem eram de desilusão
desabaram de um corpo tombado, vítima de enxágue
morreu numa cascata acidental
sexta-feira, março 07, 2008
Por querer
Silvia caminhou sozinha através do parque escuro e escolheu um banco isolado o suficiente para pensar e desabou. Com certeza não convinha a uma guria, ou qualquer um que tivesse algo a perder, andar àquelas horas em tal lugar. Não via ninguém por ali, somente vultos que deslocavam-se por entre as árvores, como se o movimento fosse necessário para a sobrevivência naquele habitat.
Vinha da rua pouco iluminada que presenciara seu quase choro evidenciado por seus olhos vermelhos. Havia postes de quando em quando, intercalados por escuros que a protegiam. Mas ainda podia ser vista por qualquer estranho que passasse. Um rapaz fumando na janela do prédio da outra calçada a deixou mais envergonhada. Preferia sair dali.
Tinha há pouco descido do ônibus no qual o cobrador, o casal do segundo banco e o senhor no fundo olhavam-na como a um animal raro que quer explodir de tanto chorar. O motorista continuou a guiar mas, mesmo assim, a viagem pareceu durar uma eternidade, tantas voltas deu aquele ônibus. As curvas misturadas com sua cabeça cheia deixaram-na enjoada. Precisava urgente de ar fresco.
Saiu do prédio sem saber se sentia raiva ou uma tristeza vazia e escura e que toma o lugar de todas as outras coisas até deixar tudo completamente gelado. Não era a primeira, mas não sabia se não era a última. Os seus olhos tinham uma coisa diferente desta vez. Ele disse e mirou prá acertar. Ele escolheu as palavras pela dor que elas trariam.
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rascunhos de quadros
quinta-feira, março 06, 2008
Pois eu quase parti.
Já com a mala fechada caiu tudo por água abaixo.
Agora vou, mas numa viagem menor.
Vou bem mais perto e volto logo
E tudo fica prá mais longe
Volto a esperar até a hora chegar
Sucede assim, o doce tirado
Fico parado e largo a mochila
Só me resta contar
Ou quem sabe, já que não foi agora
Fica prá mais tarde, aguardar de novo não é mais problema
Ainda resta comemorar.
Já com a mala fechada caiu tudo por água abaixo.
Agora vou, mas numa viagem menor.
Vou bem mais perto e volto logo
E tudo fica prá mais longe
Volto a esperar até a hora chegar
Sucede assim, o doce tirado
Fico parado e largo a mochila
Só me resta contar
Ou quem sabe, já que não foi agora
Fica prá mais tarde, aguardar de novo não é mais problema
Ainda resta comemorar.
Desavisado
Fôra devidamente avisado sobre a natureza daqueles homens, cheios de dúvidas. Preparou-se para um arsenal de perguntas como quem se prepara bem para um arsenal de perguntas: juntou um punhado de substantivos bem substantivos e não economizou energias em trabalhar nos melhores adjetivos. Era simples, mas potente, tinha certeza.
Debruçou-se na tarefa de distribuir didaticamente as palavras pelas frases e chegou a testá-las no ar. Eram belas as frases suas. E diziam tudo. Ainda assim, fez lembretes pra animar a memória. Via-se municiado de todas respostas.
Foi quando um homem só lhe pregou a peça. Um homem muito só. Tão só nesta vida que desacompanhado da mais elementar das dúvidas. Um homem que, antes de não saber, não detivera a sombra do que um dia chamou-se pensamento. Este homem, que nunca pensou, não podemos dizer que era um ignorante.
Pois bem, foi este homem que nem chegava a ser ignorante que o deixou mudo, frente a tamanha pergunta. Uma questão cínica de tão tarde que lhe vinha bater a porta. E trágica, pois parecia acelerar o tempo de uma forma absurda, que seu coração nem faria menção de acompanhar. Estático, boquiaberto. Certamente fôra neste instante, no instantâneo deste instante, que lhe entrara pela boca a pergunta do outro, e foi tomar seus pulmões. Ar. A pergunta lhe salvara. Mas como viveria com uma dúvida daquelas?
Debruçou-se na tarefa de distribuir didaticamente as palavras pelas frases e chegou a testá-las no ar. Eram belas as frases suas. E diziam tudo. Ainda assim, fez lembretes pra animar a memória. Via-se municiado de todas respostas.
Foi quando um homem só lhe pregou a peça. Um homem muito só. Tão só nesta vida que desacompanhado da mais elementar das dúvidas. Um homem que, antes de não saber, não detivera a sombra do que um dia chamou-se pensamento. Este homem, que nunca pensou, não podemos dizer que era um ignorante.
Pois bem, foi este homem que nem chegava a ser ignorante que o deixou mudo, frente a tamanha pergunta. Uma questão cínica de tão tarde que lhe vinha bater a porta. E trágica, pois parecia acelerar o tempo de uma forma absurda, que seu coração nem faria menção de acompanhar. Estático, boquiaberto. Certamente fôra neste instante, no instantâneo deste instante, que lhe entrara pela boca a pergunta do outro, e foi tomar seus pulmões. Ar. A pergunta lhe salvara. Mas como viveria com uma dúvida daquelas?
morte no primeiro dia
Renato controlava sua impetuosidade inata
com doses mensais de quatro domingos
nas segundas renascia em si
(tempestades cinza-escuras)
chovia na terça em treze minutos
e na quarta-feira era evaporado
e na quinta dose de um fígado cansado
derrubava a mesa de um jogo acordando
consertava arestas, era sexta-feira
pressentiu um sopro de dias passados
mas não via o tempo, era muito lento
eram sete dias e já estava indo
era um tanto louco aquele de repente
já chegou domingo, já morreu Renato
com doses mensais de quatro domingos
nas segundas renascia em si
(tempestades cinza-escuras)
chovia na terça em treze minutos
e na quarta-feira era evaporado
e na quinta dose de um fígado cansado
derrubava a mesa de um jogo acordando
consertava arestas, era sexta-feira
pressentiu um sopro de dias passados
mas não via o tempo, era muito lento
eram sete dias e já estava indo
era um tanto louco aquele de repente
já chegou domingo, já morreu Renato
Desumana
coberta de neve parecia nula
não estava mais, não estava nua
nada parecia com uma voz que soa
nada se mexia, nem a vida à toa
era um frio isento deste que arrepia
um vazio que corta deste que ignora
ela não sofria, tinha a pele dura
era branca a pele e nem refletia
não havia vento, nem um som suspenso
eu olhava aquilo e nem era denso
de uma violêcia que emudece o eco
era tão intenso que não repetia
tinha tanta idade quanto um segundo
era tão estranha tanto quanto o mundo
não estava mais, não estava nua
nada parecia com uma voz que soa
nada se mexia, nem a vida à toa
era um frio isento deste que arrepia
um vazio que corta deste que ignora
ela não sofria, tinha a pele dura
era branca a pele e nem refletia
não havia vento, nem um som suspenso
eu olhava aquilo e nem era denso
de uma violêcia que emudece o eco
era tão intenso que não repetia
tinha tanta idade quanto um segundo
era tão estranha tanto quanto o mundo
o que faz o sofrimento
- sequer uma palavra
,disse
e ninguém emitiu um ai
houve o som
ainda que você não possa ouvir, houve
hoje só se lembra de ouvir
a gente muda
(que não quer repetir)
,disse
e ninguém emitiu um ai
houve o som
ainda que você não possa ouvir, houve
hoje só se lembra de ouvir
a gente muda
(que não quer repetir)
Descaminho
olho do avesso minhas passadas
passo desencontrado, joelho torcido
indago como terei sido
a sombrancelha cede:
sou desta linha
desta linha que atravessa um tango
e submete o passo
que repete o giro
até cansaço
desta linha que tropeça em fuga
até que muda e sobe um monte
e antes da pressa
olha enviesado os vales
que antecedem horizonte
passo desencontrado, joelho torcido
indago como terei sido
a sombrancelha cede:
sou desta linha
desta linha que atravessa um tango
e submete o passo
que repete o giro
até cansaço
desta linha que tropeça em fuga
até que muda e sobe um monte
e antes da pressa
olha enviesado os vales
que antecedem horizonte
terça-feira, janeiro 29, 2008
Verdes Raros
Sonhos sensatos e raros mergulhos
Um gozo de tempos em tempos de paz
Jogos de almas, palavras trocadas
Cadeia de eventos em ventos do sul.
Bato de frente com verdes mareados
Batem na fronte os verdes mareados
Contam histórias, afogam silêncios
No verde sem fim, fui aprisionado
Conta comigo de novo começo
Não escondo mais meu sorriso.
Bato de frente com verdes mareados
Batem na fronte os verdes mareados
Um gozo de tempos em tempos de paz
Jogos de almas, palavras trocadas
Cadeia de eventos em ventos do sul.
Bato de frente com verdes mareados
Batem na fronte os verdes mareados
Contam histórias, afogam silêncios
No verde sem fim, fui aprisionado
Conta comigo de novo começo
Não escondo mais meu sorriso.
Bato de frente com verdes mareados
Batem na fronte os verdes mareados
terça-feira, janeiro 22, 2008
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