quinta-feira, julho 19, 2007

Andaram juntos feito corpos, lado a lado, sem ser necessária uma única palavra, apenas o contato leve e roubado. Uma, bixo puta, indo porque sim, sem bem afeto, sem bem admiração, só uma coisa familiar, um tesão, um impulso que não tem descrição, mas que é a próxima instrução de um programa por seu corpo seguido. Ele, bixo nada. Animal sem vida que desistiu já faz um tempo, que não se importa e só espera. Bixo nada que encontrou uma coisa que havia perdido. Após perder suas vontades, se deixou levar, foi caindo, descendo e rolando, esperando que um barranco um pouco mais significativo quebrasse seu pescoço de uma vez e acabasse logo com isso. Agora, tinha uma obsessão.
Obsecou pelo gosto provado. Riu novamente, depois de tempos, se bem que de maneira furtiva, até mesmo sem jeito. Envergonhou porque acabou aprendendo que não ria, e achou que sua alegria é sinal de fraqueza. Ao mesmo tempo, ela levantou as calças, como que por acaso, quase que com indiferença. Não riu, da mesma maneira que não gozou. Ou gozou, mas não se importou. Do alto de um tesão mecânico, saiu a passo do beco. Parou debaixo do poste, abriu a bolsa e catou uma pastilha. Seguiu à esquerda e depois rua acima. Na porta, demorou-se com as chaves, abriu, fechou. Subiu três lances de escada, mais uma última porta. Uma vez em casa, despiu-se de alguma fantasia que ainda restava e deitou a cabeça tranqüilamente, conforme era de praxe.

Um comentário:

Arbº disse...

a silenciosa vida mundana, menos irreal que muita vida por aí