quarta-feira, maio 31, 2006
Está contido em
A possibilidade de não saber sobrepõe-se a do conhecimento na medida em que, vivenciada, sabe-se única (e é a única coisa que sabe). Ao mesmo tempo, desconhecer é menor, está contido em conhecer. Que coisa contraditária parece essa!
sexta-feira, maio 26, 2006
Prólogo para um livro de receitas
Compõem esse rico ajuntamento o Ricardo e a Zéti (meus pais), o Paulo e Neusa, o Nicola e a Lisa, o Charles e a Marta, o João e a Zezé, por vezes mais alguns compadres ou filhos, todos formando essa reunião de pessoas, não por acaso, há mais de duas décadas preservando a amizade tal qual o vinho é preservado em barril de carvalho, assim adquirindo mais virtude, oxigenado na exata medida de melhor ser desfrutado. E em cada mês bebe-se deste vinho, alternando-se os lares, sempre o mais aconchegante que os anfitriões podem oferecer. O leigo conhecimento acerca dos vinhos não me possibilita outras metáforas certamente existentes, e esse exercício reservo humildemente às próximas páginas que eles mesmos, ingredientes imprescindíveis deste caldo, trataram preencher.
Discorri sobre o tempero que permeia essas celebrações mês após mês. Muito provavelmente porque outra coisa não pudesse dizer sobre a matéria - devo admitir que eu quero ser assim quando eu crescer, todavia, hoje, não vou muito além de um bife bem passado (alguém aceita?). Decerto que os jantares aqui descritos, antes de provocar salivação em massa nos leitores, terão satisfeito os espíritos desses gaúchos de bom garfo e coração. Mas que não se engane o desavisado: tal contentamento é provisório, pois, bem como observou Guimarães Rosa, "satisfeito, o animal dorme". Esses homens e mulheres, que aqui escrevendo suas receitas também compõem suas histórias, correm de tal inércia e, insaciáveis, vão pondo no forno a segunda edição, enquanto você degusta esta.
Bom apetitchê!
quinta-feira, maio 25, 2006
A luz, o mundo e as sombras do mundo
quarta-feira, maio 24, 2006
Notícia trágica e crítica cômica (ou vice-versa)
Nota de um crítico sobre a obra:
Dizem, a vida imita a arte. Eis que surge esse sujeito - não sei de onde e não vem ao caso - e transforma, num só tempo, vida, morte e arte, esse triunvirato tão indissociável que às vezes nos aparece sem os contornos da diferença. Está lá o espetáculo da morte, tão banalizado nas cenas do cotidiano, tão nosso, e ao mesmo tempo ainda assombroso, dando a asfixiante sensação de que secreta em quaisquer dos pontos em putrefação na tela, ou em todos de uma só vez, um enorme buraco negro, fim de toda existência, de toda razão, de toda beleza. Está igualmente lá uma massa de cores aleatórias, todas elas sem nunca terem transparecido tanta vida, jamais haviam transposto o descaso de retinas indiferentes à sua pele mestiça, retinas reticentes em enxergar para além de órgãos, cartilagens, ossos e sangue, agora todos estes expostos, nus, estalados no que antes era somente branco, decompondo-se e se derramando tela abaixo, deixando-nos estupefatos, mais ainda porque a gravidade lhes impõe a mesma lei a nós imposta, como se negasse a ausência de suas almas ou, mais assustador, a presença das nossas. Por fim, lá está também, ou sendo uma estranha coexistência de morte e vida (ou coinexistência), a arte, em sua sorte invariável de narrar o inenarrável, de cumprir a impossível tarefa de, tendo esgotado as descrições informativas, fazer saber o homem que ele é o desaparecimento de todas as dualidades.
terça-feira, maio 23, 2006
Por que estudar economia? Joey Cheek tem a resposta!
Retirado do Freakonomics blog
The real reason I went into economics
They teach you a lot of things when you study economics: about marginal cost, incentives, dynamic optimization, etc.
But up until now, the real reason for why people study economics had been a closely held secret known only to economists—kept carefully hidden away from the hoi polloi.
Well, it turns out Joey Cheek, of all people, is the one who blew the secret. You may remember Joey Cheek as a gold medal speed skater from the Winter Olympics. It turns out he is also quite smart. He was admitted to Yale, Princeton, and Stanford. (Harvard, however, turned him down.)
Parade magazine quotes Cheek as saying that he plans to study economics. And then he goes on to blow the secret we economists have so carefully guarded for all these years. He plans to study economics because “that’s what gets the chicks.”
(My wife Jeannette adds that I am living proof.)
Com a mão
sexta-feira, maio 19, 2006
quarta-feira, maio 17, 2006
Incentivos importam
Minha hipótese é de que sim. Mas acho que é preciso fazer a suposição de que o próprio namorado tenha um interesse não negativo na manutenção do namoro. Se permitirmos interesse negativo, a utilidade do namorado aumentaria com menos esforço (dado custo zero para encerrar o relacionamento).
Conhecimento maduro
Johann Wolfgang von Goethe, in 'Máximas e Reflexões'.
terça-feira, maio 16, 2006
Os cavalos selvagens de Saer
[...]
A tropilha avança a todo galope pela planície, dispersa e crescente como se sofresse mudanças descontínuas de tamanho, e o ruído dos cascos resoa e repercute, desdobrando-se sob as patas dos cavalos, e se dissemina pelo ar em que os pássaros fogem em todas as direções.
[...]
Os cavalos, todos escuros, os pêlos de tons quase idênticos, com o mesmo ritmo, a mesma velocidade, na mesma direção, masssa sombria e palpitante, de uma multidão unificada por todos os seus membros e ao mesmo tempo dispersa em cada um deles, aglomeração de carne quente, de músculos e nervos e de sentidos, vão propagando o estrondo pelo campo vazio e saturando-o a tal ponto que até os pensamentos maravilhados de Bianco são cobertos pela proliferação sonora e tornam-se inaudíveis ou incompreensíveis para ele em sua própria mente. Vigorosos, disciplinados e selvagens, parecem a massa arcaica do ser deslocando-se como um vento cósmico, dividida num número indefinido de indivíduos idênticos, tal como uma infinidade de estrelas separadas pelo negrume mas todas constituídas da mesma substância, ou uma fileira de álamos brotados da mesma semente e que, observados de certo ponto do espaço, superpõem-se e se fundem até dar a ilusão de serem um só."
A ocasião, Juan José Saer, páginas 25, 26 e 27.
terça-feira, maio 09, 2006
cenas surreais
O surrealismo aplicado ao cinema, a partir de filmes como L'Âge d'or (Buñuel/Dalí,1930), perde um pouco da sua espontaneidade. Isso porque não se pode fazer um filme totalmente sem critério, na medida em que alguma seqüência de etapas deve ser seguida. Qualquer linguagem mais poética ou simbólica aparece de forma mais tênue na película, por falta desta automaticidade. Em contrapartida, a linguagem cinematográfica parace facilitar a compreensão, ou melhor, instiga a vontade de compreender, porque coloca o pensamento em movimento, por mais non sense que sejam as cenas, existe aí uma lógica análoga à lógica do sonho. Há um choque, uma provocação que corre paralelamente e durante toda a projeção das imagens e som (havendo som). E é nessa arte que conseguimos com maior rapidez as respostas a esses questionamentos, sejam elas conclusões genuínas ou simplesmente frutos de ilusões do espectador. O cinema cria, a priori, um contexto que em outras artes existe de forma menos perceptível. Ainda que não se entendam, as questões, de uma certa forma, se encerram.
Por isso é que é mais fácil, por exemplo, rir até chorar numa sala de cinema.
Ouvindo A certain romance - Artic Monkeys.
sábado, maio 06, 2006
sexta-feira, maio 05, 2006
Rodrigo Cambará
Que hei de concedê-lo em homenagem?
terça-feira, maio 02, 2006
Cronodependência
Talvez seja a morte, avessa a protocolos, a maneira mais eficaz de livrar o ser humano de seu maior apego.